A encenação, segundo a qual o presidente russo Wladimir Putin ordenou o assassinato de Alexander Litwinenko, é tão clara, que entrementes até jornais britânicos, como o Daily Telegraph, perguntam se Litwinenko não teria sido sacrificado para que Putin fosse prejudicado.
O jogo de bastidores das oligarquias financeiras
O caso Litwinenko chamou a atenção do mundo todo principalmente pelas suas características peculiares. Procuramos nos ater aos fatos localizados atrás dos bastidores e pouco divulgados pelas agências de notícias internacionais. Apesar de não consideramos a Rússia um exemplo de retidão, os detalhes abaixo mostrados, assim como as perguntas, conclusões e qualidade das informações, apresentam uma versão muito mais plausível do que as “correntes explicações”.
Alexander Goldfarb
Como amigo de Litwinenko e Diretor da Fundação Internacional para Liberdades Civis, fundada por Boris Beresowski, Alexander Goldfarb representa o elo pessoal entre os dois proeminentes russos exilados em Londres. Beresowski criou a Fundação logo após sua chegada à capital britânica. Goldfarb é cidadão americano. Durante as três semanas da agonia de Litwinenko, Goldfarb permaneceu ao seu lado, pois ele passou para a imprensa as últimas notícias do doente terminal.
Achmed Sakajew
O líder checheno dos separatistas, Achmed Sakajew, que deixou sua pátria após um ferimento durante a guerra na Chechênia, foi também exilado em 2002 para a Grã-Bretanha. Quando ameaçado de extradição durante o processo judicial, ele obteve o apoio da atriz condecorada com o Oscar, Vanessa Redgrave. A intenção de deportação foi suspensa com a alegação de que Sakajew seria provavelmente torturado. Sakajew estabeleceu contatos em Londres com outras personalidades exiladas. Litwinenko teria sido certa vez rotulado como “irmão”.
Litwinenko
L. (Litwinenko) escapou da Rússia em 2000, quando a estrela dos oligarcas russos, um pequeno grupo dos gafanhotos globais, começava a perder seu brilho. Goldfarb ativo na Rússia no âmbito da “Fundação dos Direitos Civis” do milionário americano George Soros, providenciou sua fuga.
L. foi para Londres onde muitos dos mais ricos criminosos oligarcas, como Boris Beresowski e Roman Abramowitch, já tinham se deslocado, e recebeu lá asilo político.
Boris Abramowitch Beresowski e Roman Abramowitch
A Inglaterra tem longa tradição desde Elisabeth I na proteção de golpistas e piratas. Outros oligarcas, como por exemplo Wladimir Alexandrowitch Gussinski, se refugiaram em Israel. Gussisnki que chegou a declarar “como todos os judeus, eu tenho duas Pátrias: Rússia e Israel“, foi preso inicialmente na Rússia e depois de fugir de lá, pela Interpol na Espanha.
Wladimir Alexandrowitch Gussinski
Por bons motivos, normalmente os agentes e espiões não bebem e nem comem durante seus encontros. L. não prestou atenção por um momento e já estava em seu organismo o metal radioativo, do qual uma pequena imperceptível quantidade já é suficiente. A dose foi tão alta que ele morreu após três semanas, justamente no dia em que Putin negociava a extensão do tratado comercial entre a Rússia e a União Européia, onde na ocasião a Polônia tinha deixado seu voto contrário.
A imprensa européia dos gafanhotos, como noticiou a revista Der Spiegel, por exemplo “The Times” e “La Repubblica”, atacaram veementemente o maldoso Putin, o “amigo de todos os esportistas” (Politkowskaja) e o responsabilizou direta ou indiretamente pela morte de Litwinenko.
A jornalista assassinada Anna Politkowskaja
Segundo noticiado pelas rádios, foi encontrado na casa de Litwinenko (que pertence coincidentemente a Beresowski) rastros de material radioativo, também no ponto de encontro do Hotel e no Sushi-Bar. Não se fala mais hoje sobre a casa. Por outro lado pessoas da polícia britânica insinuam que tudo foi um trabalho bastante profissional. Mas curiosamente, se o material altamente tóxico foi encontrado logo em dois diferentes locais, isso prova que não foi um “trabalho bastante profissional“.
E além disso é muito improvável que um serviço secreto profissional trabalhe com material radioativo, o qual possui uma longa meia-vida e é encontrado no corpo semanas após seu uso. Neste cenário existem alternativas. Bastante desastrado teria agido o Serviço Secreto russo no caso dele ter dosado o polônio para que sua reação mortal em um antigo funcionário, e agora cidadão inglês, tivesse efeito justamente quando – como previsto – a União Européia e a Rússia se digladiam por causa da Polônia. Tão idiotas não são, como a imprensa vê corretamente, os agentes de Putin – NR.
Talvez leve agora o rastro de Polônio 210 de Londres até os assassinos de Litwinenko. Pois os rastros de Polônio 210 não foram encontrados somente no bar Itsu, no Hotel Millennium, e no apartamento de Litwinenko (Litwinenko morava em um imóvel de Beresowski, diretamente em frente ao terrorista checheno Sarkajew).
No escritório de Beresowski foi encontrado também Polônium 210 [Guardian].
Certamente, nós não queremos prejulgar ninguém, porém, a lista de delitos atribuídos ao oligarca Beresowski que foi publicada pelo jornalista assassinado, P. Khlebnikow, em seu livro “O chefão do Kremlin“, é extensa. Hony soit qui mal y pense! [Malditos sejam aqueles que pensam mal]
Tudo isso nos faz recordar que o assassinato do jornalista Paul Khlebnikow, um crítico de Beresowski, ainda não está esclarecido. Khlebnikow foi fuzilado na ocasião que ele, assim como Anna Politkowskaja, se interessaram em demasia pelos negócios sujos do oligarca na Chechênia. Lavagem de dinheiro e o saque de inúmeros vagões de mercadorias, correspondendo a quilômetros de preciosas matérias-primas, eram duas de suas “especialidades”. […] Em 13 de maio de 2005, a agência de notícias Mosnews reportou sobre a prisão de dois chechênios, suspeitos do assassinato de Khlebnikow: […] Finalmente publicou Mosnews em 15 de fevereiro de 2006 , que o processo contra Dukuzov e Vashaev em um tribunal de Moscou se estendeu devido à troca de juízes. O final do processo está ainda pendente.
Boris Abramowitch Beresowski
O poder das oligarquias existe em todo o mundo e aqui no Brasil não é diferente. Segundo a entrevista Carlos Alberto Sardenberg da rádio CBN com o sociólogo José Arlindo Soares, professor da Universidade Federal da Paraíba, este último afirma que mesmo perdendo as eleições passadas, o poder dos oligarcas José Sarney e Antônio Carlos Magalhães “é preciso olhar com certa cautela“.
Carlos Alberto Sardenberg da rádio CBN
No Brasil, segundo nota do Ministério das Relações Exteriores, Beresowski é “apontado como o maior acionista do fundo de investimentos MSI, parceiro do Corinthians” e estudou em abril de 2006 a possibilidade em participar da reestruturação da Varig. A VarigLog, que conta com a presença de David Zylbersztajn, participava também na mesma época da “salvação” da companhia aérea. Em julho de 2006, a VarigLog comprou a Varig.
David Zylbersztajn
Terroristas chechênios, como Bassajew ou Zakajew (Sarkajew), que estavam na lista de pagamento do oligarca Beresowski – ou ainda estão – não conseguem conduzir a guerra contra a Rússia. Ao contrário de Bush no Iraque e no Afeganistão, aparentemente Putin ganhou a guerra contra o terror na Chechênia.
Na página da internet de Tomasz Konicz, encontra-se em 29 de agosto de 2006 sob o título Alchanow, o otimista a confissão da derrota do terrorista Zakajew, “que não é mais possível uma vitória dos separatistas“. Konicz cita ali o presidente da Chechênia, o qual declara por encerrado o conflito já no início de junho no Echo Moskau, mesmo se ainda existam alguns problemas.
A vitória de Putin em sua guerra contra o terror sobre os separatistas da Chechênia mostra com fica difícil a situação para o oligarca Beresowski e seus amigos. A Rússia pode agora se concentrar em acertar as contas com o bando do financiador dos separatistas. Depois de Beslan, Theater Nordost, atentato com explosivos em prédios de Moscou e no metrô, depois da explosão de dois aviões pelos suicidas chechênios, ainda permanecem para Putin algumas contas em aberto. O oligarca e seus protegidos “angloamericanos” podem se preparar para o dia do acerto de contas.
Ahmadinejad e Putin
A encenação, segundo a qual o presidente russo Wladimir Putin ordenou o assassinato de Alexander Litwinenko, é tão clara, que entrementes até jornais britânicos, como o Daily Telegraph, perguntam se Litwinenko não teria sido sacrificado para que Putin fosse prejudicado. Relevante para o caso são os seguintes fatos:
1- A época: o caso Litwinenko escalou de forma intensiva depois que Rússia e Grã-Bretanha assinaram um acordo que possibilitava a extradição para a Rússia do oligarca russo Boris Beresowski e do líder rebelde chechênio Achmed Sakajew. A notícia da morte de Litwinenko foi anunciada em 23 de novembro, justamente durante o encontro entre União Européia e Rússia, em Helsinki, que contou com a presença de Putin. Com isso, o caso ganhou notoriedade.
2- Quase a totalidade dos amigos de Litwinenko estão na folha de pagamento de Beresowski. Amigo de Litwinenko e vizinho, Sakajew levou-o até o Hospital depois que apareceram os primeiros sinais de envenenamento. Ambos moravam em apartamentos que lhes foram cedidos por Beresowski. Litwinenko foi visitado pelo produtor de cinema russo Andrej Nekrassow, o qual dirige no momento juntamente com David Satter, do Instituto Hudson, um documentário sobre a Rússia. O relações-públicas de Litwinenko era Lord Timothy Bell que igualmente é pago por Beresowski. Bell também foi o relações-públicas de Lady Thatcher, quando esta era primeira-ministra, assim como também de Lord Mac Alpine, quando este era anfitrião anos a fio do líder rebelde da Chechênia.
3- Todas as explicações e entrevistas que Litwinenko deu de sua cama no Hospital e que responsabilizava Putin pela sua morte, foi divulgada por Alex Goldfarb, um russo que também é diretor da Fundação Internacional para Liberdades Civis, de Nova Iorque, e de propriedade de Beresowski. Antes disso, Goldfarb atuava em uma Fundação de George Soros.
4- Um papel muito estranho fez Mario Scaramella, um italiano que encontrou Litwinenko em um restaurante em Londres. Ele relatou à Scotland Yard sei informe a Litwinenko de que ele – juntamente com ele próprio e Beresowski – estavam na mesma lista da morte que se encontrava a jornalista assassinada Anna Politkowskaja. Para a Scotland Yard, Scaramella declarou que um grupo de agentes de Putin foi enviado para executar aqueles nomes da lista. Scaramella citou o antigo membro de serviço secreto russo, Jewgenij Limarew que mora em Paris e Veneza, como fonte de suas informações. Limarew desmentiu o relato de Scaramella imediatamente em uma entrevista para o jornal La Repubblica.
Mario Scaramella
5- Este Scaramella é parte integrante de uma rede particular de serviço secreto, que mantém contato com o Vice-Presidente norte-americano Cheney. Scaramella trabalha no programa de prevenção contra crimes ecológicos (EPP), em Washington, e que segundo Limarew tem “apoio institucional do serviço secreto militar“. Limarew relatou que Scaramella tinha dito que eles podiam confiar na equipe de Dick Cheney na Casa Branca. Sobre a EPP, Scaramella forneceu a Limarew e Litwinenko dossiês falsos sobre italianos contrários à guerra, que deveria ser encaminhado à comissão de investigação Mythrochin do Parlamento Italiano. Scaramella é consultor do presidente desta comissão, Paolo Guzzanti.
6- Fontes no governo e na mídia russa apontam para Beresowski como provável responsável pelos assassinatos. “Quando se pergunta quem teria se aproveitado mais de tudo isso, a resposta só pode ser Beresowski” segundo uma fonte no Kremlin no Sunday Times de 26 de novembro. Komsomolskaja Prawda escreveu: sua morte é interessante para aqueles que querem envenenar as relações entre a Rússia e o Ocidente.
7- Em uma coletiva da imprensa, em Helsinki, Putin mencionou pela terceira vez publicamente o assassinato do jornalista Paul Klebnikow, um genro de John Train e forte aliado de Beresowski. Em relação ao assassinato de Politkowskaja, Putin disse: “Nós precisamos pensar também em outras mortes desta natureza. Também um outro jornalista foi assassinado, o americano Paul Klebnikow. Foi iniciada um investigação e o caso foi aos tribunais. Infelizmente os acusados foram inocentados pelo júri. A promotoria entrou com um recurso. Mas nós não podemos esquecer os crimes políticos em outros países, os quais incluem assassinatos políticos em outros países europeus”.
Os indícios, segundo o La Repubblica, são impressionantes: “Um material radioativo. Isso é algo que não se compra na farmácia e também não se fabrica na cozinha. Uma substância muito rara e difícil de se obter”. Aqui o La Repubblica se engana. Polônio é onipresente, ou seja, ele aparece como subproduto do elemento Rádio, em pequeníssimas proporções, por toda a natureza (segundo a tabela de composição do núcleo do elemento Rádio, Vigilância ecológica, Medicina e Técnica, do Ministério do Meio Ambiente do Estado de Hessen, Alemanha). De uma tonelada de minério de Urânio, pode-se obter 0,0001 grama de Polônio. Um trabalho muito árduo.
Todavia, pode-se obter de forma mais fácil em Sellafield, uma instalação de reciclagem localizada não muito longe de Londres. Ou se obtém através de aparelhos que eliminam as cargas estáticas da superfície de fotografias (não é recomendado para amadores). Muito trabalhoso também é se obter a partir da fabricação do Bismuto, através do bombardeamento com nêutrons, e para isso é necessário um laboratório nuclear de alguns milhões… A maneira mais fácil para se chegar ao Polônio existe nos Estados Unidos, pela Internet. Ali é possível obter em “United Nuclear” uma amostra de Polônio para laboratório particular e pagar com PayPal.
Tudo isso não esclarece naturalmente a pergunta: Quem foram os verdadeiros assassinos?
Existe a hipótese que o mandante do assassinato de Litwinenko seja seu protetor Beresowski, o qual entrou em evidência nos últimos anos por ter financiado e apoiado com milhões de dólares não somente os separatistas da Chechênia,
– mas também a Revolução Laranja em Kiev, Ucrânia, no final de 2004;
– a tentativa de golpe na Bielo-Rússia no início de 2006;
– e finalmente a Revolução das Rosas na Geórgia.
Contra Beresowski existe hoje um pedido de extradição expedido pela justiça russa (ele também é acusado na Ucrânia, por exemplo por Krawtschuk, antigo presidente da Ucrânia). Ele tentou, segundo escreveu –Iswestija – evitar a eminente deportação através da criação de um cenário desfavorável à Rússia. Também é possível que Litwinenko – já doente – o tenha proporcionado uma excelente oportunidade para construir um grande assassinato político. Ou Litwinenko tornou-se suspeito para seu protetor ou ele trabalhava contra Sakajew?
Fato é que após Litwinenko cair enfermo em 2 de novembro de 2006, este foi cuidado pela empresa de relações públicas Chime Communications. Seu chefe é novamente uma pessoa de confiança de Beresowski. Chime Communications foi responsável então pela distribuição mundial das fotos do mortalmente enfermo ex-agente do serviço secreto. Bizarra também foi a declaração de Litwinenko à imprensa pouco antes de sua morte, onde ele acusa pateticamente Putin pelo seu envenenamento. A empresa de RP cuidou também de enfatizar o aparecimento público do presidente da Fundação Beresowski, Alexandre Goldfarb, que também acusou Putin. O pai de Litwinenko procedeu da mesma forma.
Litwinenko pouco antes de sua morte
O protegido de Beresowski, o chechênio Zakajew, alimentou a imprensa com a notícia sobre a utilização de polônio pelo serviço secreto russo nos prisioneiros feitos na guerra da Chechênia. Beresowski tentou também envolver o famoso toxicólogo John Henry como consultor para determinar a substância enriquecida. Entretanto, Henry se retirou imediatamente da investigação. Existe ainda dentro de diferentes níveis do governo, grupos ou pessoas que tem contas antigas para acertar com Litwinenko. É improvável que eles tenham acesso a uma recente produção de polônio. Também improvável é que eles tenham elaborado uma rede de conspiração complicada e perigosa, onde simplesmente para eliminar Litwinensko bastaria um tiro pelas costas.
Um aspecto muito importante neste caso é a pergunta fundamental feita por Bröckers:
Que o caso de envenenamento do ex-espião Litwinenko seja uma propaganda anti-Putin, como uma vingança do chefe do Kremlin a seus críticos, não é tão falsa. Pois tão estúpido a ponto de se expor com métodos exóticos e que servem de prato cheio para a mídia, Putin não pode ser. E além disso, caso Litwinenko tivesse alguma informação secreta que ele pusesse revelar ou mesmo chantagear, neste caso ele não seria eliminado por um método que lhe permitisse falar com a imprensa ainda por duas semanas.