Os generais franceses De Gaulle, Leclerc e Jui,
a 26/08/1944 na estação de trem de Montparnasse.
Nos dias seguintes acontecia o massacre de prisioneiros alemães,
no aeroporto parisiense de Le Bourget
É de conhecimento geral que o general francês Leclerc ordenou, sem qualquer julgamento, a 8 de maio de 1945 em Bad Reichenhall, o fuzilamento de 12 voluntários franceses da Divisão Charlemagne. Um crime de guerra.[1] Somente posteriormente soube-se que sua divisão, em sua jornada desde a Normandia até Berchtesgaden, cometeu ainda inúmeras outras atrocidades, sem que qualquer participante tenha sido responsabilizado. Ao contrário: os maiores culpados fizeram carreira na França do pós-guerra. Como o diretor aposentado Friedrich Pohl reportou,[2] o pesquisador francês Daniel Guerain ocupou-se deste delicado assunto, entrevistou testemunhas alemãs e francesas e visitou os locais dos confrontos. Ele relatou o resultado de suas pesquisas em seu livro “O outro lado da lenda, a História de uma libertação”.[3] O historiador traz à luz o relato das testemunhas, também da divisão francesa. Eles descrevem os inúmeros assassinatos, frequentemente cruéis, de prisioneiros alemães, principalmente de membros da Waffen-SS. Por exemplo, soldados da divisão de Leclerc teriam jogado gasolina nos prisioneiros alemães, queimando-os vivos a seguir.
Também no aeroporto Le Bourget, nos arredores de Paris, aconteceu o massacre de centenas de prisioneiros de guerra alemães, esmagados pelos tanques de Leclerc.[4] Destaca-se aqui a brutalidade do tenente francês Galley. O soldado Albert Bisson descreve os acirrados combates na região de Andelot (Departamento do Alto Marne), onde tropas francesas e alemãs se encontraram. Os franceses sofreram baixas severas, mas conseguiram romper a resistência alemã. Uma grande quantidade de “Boches”, como o soldado os denominava, se renderam: “Assim se aproximaram outros 500 prisioneiros”. “Espere, rapazes!”, gritou o tenente Galley. Ele ordenou que levassem os alemães para um celeiro, moveu o tanque à frente e ordenou pelo seu microfone: “Torre para a esquerda, pare! Granadas! Fogo!” As granadas explodiram… no meio do grupo de alemães. Os estilhaços destroçaram seus corpos, que grudaram por toda a estrutura de madeira do celeiro. “Nós acabaremos com o resto que ainda vive, usando a metralhadora. Hoje é o dia da vingança!”. Embora o tenente Galley seja acusado por outros crimes de guerra, como reporta o diretor Pohl, ele pode galgar ao cargo de ministro sob De Gaulle, Pompidou e Giscard D’Estaing, ainda atuando como tesoureiro do partido do presidente Chirac.[5]
Sobre a famosa Divisão Leclerc, um antigo membro escreveu posteriormente: “Esta Divisão tem uma lisonjeira e amplamente injusta reputação junto aos franceses e ela a terá por muito tempo. Ela é parte do mito gaullista, e enquanto permanecer viva, o “exército Leclerc” eclipsará outras valorosas e pouco sortudas tropas da história…
A 2ª Divisão de Blindados que foi ao encontro da Cruz De Lorraine em operações de grande prestígio, porém de baixo risco (como em Paris, Estrasburgo e Bechtesgaden), aproveitou o poder esmagador dos norte-americanos e adquiriu um desprezível complexo de superioridade através destas fáceis vitórias. Adornado com as penas do pavão americano e com a áurea de Leclerc, até mesmo o pior voluntário podia se permitir quase tudo e até desprezar outras unidades francesas, por exemplo, recusando-se a saudar oficiais que não pertenciam à 2ª Divisão.
Antes e depois do cessar das hostilidades, a 2ª Divisão promoveu tanta desordem e saqueou em tal volume, que os próprios norte-americanos, enojados, exigiram sua retirada de sua zona de ocupação.[6]
Artigo 300
Der Grosse Wendig, página 262.
[1] Ver artigo 304, “O fuzilamento em Bad Reichenhall”.
[2] Frederick Charles POHL: Soldado entre o povo, novembro 2000, página 270 et seq.
[3] Daniel GUÉRAIN, O Reverso da Lenda. História de uma libertação, Bonneville 2002.
[4] Philippe GAUTIER, Medo dos alemães — Ódio da Alemanha, Graben, Tübingen
1999, páginas 135-139; ver também: Artigo 301, “Assassinato em massa de prisioneiros em Paris”.
[5] Ver artigo 302, “O massacre de Andelot”