“O Holocausto nunca aconteceu”
A morte de apenas uma única pessoa ou mesmo a perseguição humana desamparada de mecanismos legais, já são aspectos condenáveis. Mas servir de tais argumentos para impedir a investigação deste problema estatístico ou sobre os “como” e “por que” do extermínio dos judeus, parece ser incorreto da mesma forma…
Nossa visão da história tem influência direta na política de nossos governantes
Nas diversas e controversas discussões sobre o Holocausto judeu, observamos o questionamento sobre a veracidade do número total de vítimas judaicas, ou seja, sobre o número de seis milhões de mortos. Apesar desta cifra apresentar seu lado místico, pois, segundo Benjamin Blech, ela refere-se aos relatos de uma antiga profecia judaica, a qual reza que o retorno dos judeus à Terra Prometida se daria após a perda de seis milhões de vidas [1], alega-se ser irrelevante se tenha sido um milhão ou 10.000 pessoas assassinadas. Aqui o crime já teria sido repugnante o suficiente.
De fato, a morte de apenas uma única pessoa ou mesmo a perseguição humana desamparada de mecanismos legais, já são aspectos condenáveis. Mas servir de tais argumentos para impedir a investigação deste problema estatístico ou sobre os “como” e “por que” do extermínio dos judeus, parece ser incorreto da mesma forma, pelo menos por três motivos.
Primeiramente, esta argumentação não pode ser considerada satisfatória por este número de vítimas ser considerado sacrossanto há décadas. Caso o número de vítimas fosse considerado como questão secundária, ele não precisaria ser protegido pela lei e tornado um “tabu social”. É claro que atrás da cifra dos seis milhões se esconde mais do que uma vasta gama de destinos individuais: trata-se aqui de um símbolo – o qual não se pretende abandonar – e que visa evitar, face às emergentes dúvidas sobre este número, que mais dúvidas possam ser geradas sobre outros aspectos do Holocausto. E sem dúvida alguma irracional, pois por um lado, aqueles que duvidam da cifra de seis milhões são perseguidos social e criminalmente, mas por outro lado, a justiça e a sociedade, no julgamento dos argumentos irrefutáveis contra o número de seis milhões, renegam esta cifra, declaram-na irrelevante e se prendem à dignidade da primeira vítima. A cifra de seis milhões é um parâmetro criminal ou ela é irrelevante? Ela não pode ser ambas simultaneamente.
Mas sobretudo a acertada avaliação moral de que uma única vítima já seja suficiente, não pode servir de obstrução para uma avaliação científica deste crime. Assim como não pode-se abnegar a cada vítima a tragédia individual de seus destinos, não podemos nunca impedir que a ciência discuta sobre números, pois deve ser permitido a ela – sempre – a busca por respostas precisas. O que nós iríamos pensar de um funcionário público, que impõem a perseguição a um físico através de processo criminal pelo fato dele ele ter avaliado precisamente os coeficientes de sobrecarga da refrigeração de um reator atômico? Uma grande sobrecarga já seria por si só uma negativa de segurança absoluta e, portanto, ainda seria crítico. Se fosse imposto ao físico tal semelhante ameaça, ele apresentaria logo resultados falsos, os quais colocariam brutalmente em risco a vida das pessoas. Se um historiador é perseguido processualmente devido aos resultados de suas pesquisas ou por considerarem suas perguntas imorais, então devemos considerar logicamente que os resultados desta distorcida ciência histórica sejam provavelmente imprecisos. E como nossa visão da história tem influência direta na política de nossos governantes, uma falsa visão da história leva necessariamente a uma falsa política. A função chave e responsabilidade principal de toda disciplina científica são fornecer dados e resultados confiáveis. Aqueles princípios naturais que sejam notórios para a ciência e para a técnica, não podem ser descartados para uma análise da história devido a motivações políticas – a não ser que todos estejam dispostos a um retorno intelectual às profundezas da Idade Média.
Finalmente e em terceiro lugar, a correta avaliação moral de que uma única vítima já seria demais, não pode servir para impedir que um crime seja examinado detalhadamente, ainda mais por suas características singulares na história da humanidade. Esta suposta singularidade do crime deve pelo menos permitir aquilo que é submetido qualquer crime, ou seja, que ele seja examinado detalhadamente. Mais além, podemos considerar que aquele que postula tal crime seja único, deve aceitar uma minuciosa investigação e então sim, aceitar como fato de domínio público. Se, ao contrário, alguém procura proteger tal singularidade criminal através de um escudo de coação moral, essa pessoa se auto-condena através de um crime único, pois se esquiva – com um argumentação única – a qualquer crítica e oposição.
Nos inúmeros processos referentes ao Holocausto, principalmente na Alemanha após a Segunda Guerra, não teria então existido a possibilidade dos acusados se defenderem através de perícias técnicas? As condenações resultantes destes Tribunais – pertencentes ao Estado de Direito – não tiveram todas as possibilidades imagináveis de defesa?
Os detalhes técnicos dos processos do pós-guerra serão detalhados em um próximo capítulo. Aqui se trata em primeira linha não do processo criminal em si, mas sim da possibilidade da Ciência Histórica trazer à tona em qualquer tempo e lugar, novas informações, mesmo que elas sejam consideradas agravantes ou não para uma das partes envolvidas. Por estas novas informações e interpretações, ninguém deveria ser perseguido socialmente ou criminalmente. Pois se assim é feito, a própria Ciência é aniquilada, ou seja, a liberdade do ser humano em duvidar, perguntar, ou procurar por respostas sem utilizar qualquer tipo de camisa de força intelectual.
[1] [Benjamin Blech, The Secret of Hebrew Words, Jason Aronson, Northvale, NJ, 1991, pág. 214]