Este livro de Maurice Joly foi utilizado como fonte na elaboração dos Protocolos Sionistas. Quem já leu os “Protocolos” deveria também ler esta obra, pois muitas das passagens não publicadas nos “Protocolos” são verdadeiras aulas sobre a essência da política, além de retratar fielmente o papel dos partidos políticos nas atuais democracias.
Apresentação
Quando Maurice Joly publicou o seu Diálogo no inferno entre Maquiavel e Montesquieu, em 1864, a França vivia sob a mão de ferro de Napoleão III. Nascido Luís Napoleão Bonaparte, sobrinho do primeiro Napoleão, ele havia, em 1848, sido eleito deputado da Assembléia Constituinte francesa e, no final do mesmo ano, foi eleito presidente da República com enorme maioria dos votos. Em 1851, planejou um golpe contra o Parlamento, mandou prender e deportar numerosas figuras públicas de várias tendências políticas e, em 2 de dezembro, assinou um decreto que dissolvia a Assembléia Legislativa. Com esse golpe de Estado, Napoleão ganhou poderes ditatoriais. No ano seguinte, chamou um plebiscito pelo qual, com quase a totalidade dos votos, instituiu o Império e transformou-se em Imperador da França com o título Napoleão III. Em 1870, na guerra contra a Prússia, o imperador foi capturado pelo exército prussiano em Sedan. A Assembléia Nacional, que por pressões dos liberais havia sido restaurada, decidiu pela sua deposição e proclamou a Terceira República Francesa.
O parágrafo acima é o início da apresentação do livro “Diálogo no inferno entre Maquiavel e Montesquieu”. [1] Seu conteúdo foi utilizado parcialmente nos Protocolos Sionistas, supostamente elaborado e divulgado durante o Primeiro Congresso Sionista realizado na Basiléia, em 1897.
Quem já leu os “Protocolos” deveria também ler esta obra, pois muitas passagens não publicadas nos “Protocolos” são verdadeiras aulas sobre a essência da política, além de retratar fielmente o papel dos partidos políticos nas atuais democracias – NR.
O tema do Diálogo: a força ou a lei
Maquiavel é representado no Diálogo segundo a visão tradicional que faz dele o defensor do uso da força na política. Essa visão tradicional, que teria dado conteúdo ao termo “maquiavelismo” como símbolo de astúcia dos governantes, foi constituindo-se desde a época do próprio Maquiavel e atravessou os séculos.
Frederico II da Prússia, em 1740, publicou, em francês, uma crítica de O Príncipe, de Maquiavel, intitulada O anti-Maquiavel, na qual afirmava que ia “tomar a defesa da humanidade contra um monstro que quer destruí-la” e oferecer um antídoto ao veneno contido no livro do pensador florentino. Para Frederico II, O Príncipe era uma das obras mais perigosas que já tinham sido publicadas e certamente corromperia os governantes ambiciosos, ensinando-lhes máximas contrárias ao bem dos povos. [2]
Seria esse o motivo da Prússia ter sido varrida do mapa? É óbvio que qualquer ideologia contrária aos interesses das Altas Finanças será combatida e difamada pelos plutocratas – NR.
Breve extrato do livro
Montesquieu: Por que põe sempre os partidos à frente? Sob pretexto de cria-lhes obstáculos, não é aos próprios eleitores que impõe isso? Afinal, os partidos não passam de grupos de eleitores: se os eleitores não podem esclarecer-se com reuniões, por meio de porta-vozes, como poderão votar com conhecimento de causa?
Maquiavel: Vejo que ignora com quais artes, com que astúcia as paixões políticas frustram as medidas proibitivas. Não se preocupe com os eleitores, aqueles animados por boas intenções sempre hão saber em quem votar. Aliás, serei tolerante: não só permitirei as reuniões em prol de meus candidatos como chegarei a fechar os olhos a certas manobras de candidatos populares que farão barulho em nome da liberdade. E basta que lhe diga que os que gritarão mais alto serão meus partidários.
Montesquieu: E como vai regular o voto?
Maquiavel: Primeiro, no que concerne ao campo, não quero que os eleitores votem nos centros de aglomeração, onde poderiam entrar em contato com o espírito de oposição das vilas ou das cidades e ali receber a palavra de ordem que chegaria da capital. Quero que votem por município. O resultado de tal combinação, tão simples na aparência, será no entanto considerável.
Montesquieu: É fácil entendê-lo: você obriga o voto do interior a dividir-se entre as notoriedades insignificantes ou adotar, na falta de nomes conhecidos, os candidatos designados por seu governo. Ficaria muito surpreso caso, num sistema desses, surgissem novos talentos.
Maquiavel: A ordem pública necessita menos homens de talento do que gente devota ao governo. A capacidade suprema está sentada no trono e entre aqueles que o rodeiam; em outro lugar, aliás ela é inútil; ela chega a ser quase nociva, porque só pode ser exercida contra o poder.
Montesquieu: Seus aforismos cortam como faca: não tenho argumentos para combatê-lo. Por favor, retome a seqüência de seu ordenamento eleitoral.
Maquiavel: Pelas razões que acabo de expor-lhe, tampouco quero nenhum escrutínio de listas que deturpe a eleição, que permita a coalizão de homens e de príncipes. Por sinal, dividirei os colégios eleitorais em um certo número de circunscrições administrativas, nas quais só haverá espaço para a eleição de um único deputado e onde, portanto, cada eleitor só poderá escrever em sua cédula um único nome.
[1] Maurice Joly, Diálogo no inferno entre Maquiavel e Montesquieu, Editora UNESP, São Paulo 2009, pág. 212 et seq
[2] Frederico II, L´anti-Maquiavel, La Haye, 1740.
Artigo publicado pela primeira vez no site a 16/09/2010.