Ela é provavelmente a imagem do holocausto mais amplamente reconhecida e memorável de todas: um assustado e aparentemente condenado jovem garoto, seus braços levantados, junto com outros judeus do gueto de Varsóvia sobre o olhar de um soldado alemão armado.
Em um recente ensaio, Erwin Knoll, editor do influente periódico mensal The Progressive, apropriadamente sintetiza a visão popular desta foto : [1]
Esta fotografia, talvez a imagem mais familiar do holocausto, mostra Tsvi Nussbaumas de sete anos. Ele ergue suas mãos em Varsóvia em 1943. Após a guerra, Nussbaum mudou para Israel, e então para os Estados Unidos, onde ele trabalhou como médico na cidade de Nova York.
“Esta é a fotografia que veio a simbolizar o Holocausto: um pequeno garoto judeu, olhos baixos assustados, mãos erguidas sobre seus ombros, rodeado por tropas nazistas. Esta é a rodada final de judeus programada para execução durante o levante do gueto de Varsóvia de 1943. Mais judeus, mãos erguidas, podem ser vistos ao fundo. Nós sabemos, enquanto observamos a foto, que em breve eles todos estarão mortos. A foto aparece em arquivos e exibições, em revistas e artigos de jornais sobre o Holocausto, em documentários de televisão e livros de história. Até agora, eu devo tê-la visto centenas de vezes…”
A fotografia é uma de várias dezenas incluídas no relatório oficial da SS sobre uma Aktion da polícia alemã contra o gueto de Varsóvia. [2] Nas décadas desde o fim da guerra, ela foi reproduzida milhões de vezes em incontáveis livros, revistas e filmes, servindo como uma espécie ilustração “para todos os fins” do holocausto. Ampliações dela aparecem em exibições e amostras do holocausto em países ao redor do mundo.
Milhões de pessoas foram levadas a crer que o desorientado garoto nesta áspera foto foi morto pouco após esta memorável imagem ser preservada em filme. “A fotografia aperta o coração,” The Washington Post comentou, “porque parece que o garoto, como milhões de judeus e outros, está para morrer nas mãos dos nazistas.” [3]
Em 1979 em uma propaganda para uma coleção de livros sensacionalistas de histórias do holocausto publicados em um importante jornal semanal americano, esta foto aparece com a seguinte legenda: [4]
“Seu nome era Arthur Chmiotak. Ele faria 42 anos em maio, mas ele morreu gaseado em um campo de concentração nazista antes mesmo que ele tivesse dez anos. Por quê? Porque ele era um ‘indesejado’, uma erva daninha no jardim de perfeitas flores arianas de Hitler. Apenas um de mais de seis milhões que tinham de ser eliminados…”
Na Alemanha, um livro escolar amplamente usado descreve esta foto para seus jovens leitores com estas palavras: “Varsóvia, Maio 1943: Destruição do gueto judaico e deportação de seus residentes para gaseamento no campo de Treblimka.” [5]
Entretanto, contrário à legenda, o “garoto do gueto” não foi assassinado. Ele sobreviveu ao internamento no tempo de guerra em Varsóvia e em um campo de concentração alemão.
Tsvi Nussbaum em 1982
Várias décadas após isso acontecer, um médico de Nova York, Tsvi C. Nussbaum, revelou que ele era o rapaz na famosa fotografia. “Eu lembro que havia um soldado em minha frente, e ele me ordenou que levantasse minhas mãos”, Nussbaum lembrou mais tarde. Após seu tio intervir, foi permitido ao garoto de sete anos se juntar ao resto de sua família. Junto com parentes, o jovem Nussbaum foi deportado de Varsóvia em 1943 para o campo de Bergen-Belsen na Alemanha ocidental. Após a liberação no fim da guerra, ele se mudou para Israel, de onde migrou para os Estados Unidos em 1953. Em 1990 ele estava vivendo em Rockland County, Nova York. [6]
A história de Nussbaum se realizou sob exame crítico, e mesmo décadas depois, ele ainda trazia uma impressionante semelhança ao garoto da foto.
Historiadores do holocausto judeu “que há muito tempo consideram a fotografia como uma espécie de documento sagrado” não ficaram satisfeitos pela revelação de Nussbaum, reportou o The New York Times, porque eles estavam “convencidos que o poder simbólico da foto seria diminuído caso provado que o garoto em questão sobreviveu”. Nussbaum ele próprio ficou surpreso por tais preocupações. “Eu nunca imaginei que alguém colocasse o peso inteiro de seis milhões de judeus sobre esta fotografia”, ele disse. “Para mim, isto pareceu como um incidente no qual eu estava envolvido, e foi isso”. [7]
Dr. Lucjan Dobroszycki do Yivo Institute, um centro de história judaica em Nova York, alertou que “esta grande fotografia do mais dramático evento do Holocausto requer um nível maior de responsabilidade de historiadores do que qualquer outra. Ela é muito sagrada para deixar as pessoas fazerem com ela o que quiserem”. [8] Em outras palavras, Dobroszycki sugeriu, não deve ser permitido diminuir a utilidade e o impacto emocional da foto por causa da verdade histórica.
Amplamente considerado como uma das imagens mais emocionalmente poderosas do século, esta fotografia está, de fato, contando como evidência do trágico destino dos judeus da Europa durante a Segunda Guerra Mundial, mas de uma forma muito diferente do que muitas pessoas acreditam.
Mark Weber
Notas:
[1] Erwin Knoll, “The Uses of the Holocaust,” The Progressive, July 1993, p. 15.
[2] A legenda para esta foto no “Stroop Report” diz: “Retirados dos bunkers a força.” O “Stroop Report” de 1943 foi submetido como uma exposição da acusação no Tribunal de Nuremberg de 1945-1946, e foi publicado no volume 26 dos 42 volumes oficiais do IMT “blue series”. Nuremberg document 1061-PS (USA-275). Uma edição fac-símile deste relatório, com tradução e comentário em língua inglesa foi publicada sobre o título The Stroop Report: The Jewish Quarter in Warsaw Is No More! (New York: Pantheon, 1979).
[3] C. Harris, “Warsaw Ghetto Boy: Symbol of the Holocaust,” The Washington Post, Sept. 17, 1978, p. L 1.
[4] Propaganda para o Pleasant Valley Press de Pittsburgh para uma coleção de 13 volumes de livros por Christian Bernada. National Enquirer, April 3, 1979; Uma legenda de 1993 da Associated Press, descreve a fotografia: “Um grupo de judeus, incluindo um garoto, identificado como Arthur Schmiontak, é escoltado do gueto de Varsóvia por soldados alemães em 1943. “ Ver: Orange County Register, 18 de abril, 1993, p. 23, e, Savananah News-Press, 18 abril, 1993.
[5] Citado em: D. National-Zeitung (Munich), 16 abril, 1993, p. 11.
[6] D. Margolick, ”Médico de Rockland Pensa que Ele é o Garoto na Foto do Holocausto na Rua em Varsóvia,” The New York Times, 28 de maio, 1982, pp. B1, B2; P. Moses, “Haunting Reminder,” New York Post, 20 de fev., 1990, p. 5; Em 1978, um homem de negócios de Londres, chamado Israel (Issy) Rondel clamou ser o “garoto do gueto de Varsóvia.” Ver: J. Finkelstone, “‘Ghetto boy’ lives here,” Jewish Chronicle (London), 11 de agosto, 1978, pp. 1, 2; C. Harris, “Warsaw Ghetto Boy: Symbol of The Holocaust,” The Washington Post, 17 de set., 1978, pp. L1, L9. Esta afirmação, mais tarde, provou ser falsa. Ver: E. Kossoy, “The boy from the ghetto,” The Jerusalem Post, 1 de set., 1978, p. 5.
[7] D. Margolick, The New York Times, 28 de maio, 1982, pp. B1, B2. (citado acima).
[8] The New York Times, 28 de maio, 1982, pp. B1, B2.
Tradução livre e adaptação por Viktor Weiß.
Artigo: http://www.ihr.org/jhr/v14n2p6.html