A catedral, cuja construção fora iniciada por Henrique, o Leão, em 1173, não tinha mais salvação. Junto com 25 mil bastões incendiários, foram lançadas, pela primeira vez, as bombas de 250 libras carregadas com benzol e borracha sintética.
Atos que “libertaram” a Europa
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A única coisa que não havia sido totalmente esclarecida era a maneira pela qual iria se processar, nas áreas densamente habitadas, o ataque à moral. A resposta a essa pergunta não menos importante foi confiada a Arthur Harris, o novo chefe do Comando de Bombardeiros, nomeado em 22 de fevereiro de 1942. Após a guerra, Harris escreveu que seus superiores, Portal e Sinclair, lhe haviam entregado de antemão, a estratégia, os locais e a forma de ataque. Essa última “deveria ser o incêndio, primeiramente nas cidades do Ruhr, depois em outros 14 grandes centros”.
Harris, um homem obstinado e ao mesmo tempo prático, sugeriu queimar uma cidade onde o sucesso seria garantido: Lübeck. Em primeiro lugar, devido aos nítidos contornos da baía de Lübeck; em segundo, pelo fato de não possuir qualquer indústria bélica de relevância, sendo, portanto, fracamente defendida; em terceiro, pelas construções medievais de madeira do centro antigo, facilmente inflamáveis. Eram esses os motivos que justificavam a destruição de Lübeck: posição geográfica, fragilidade e belas antiguidades.
Ou seja, uma cidade sem defesa anti-aérea. Uma perfeita tática pusilânime – NR.
Estátua do anjo da morte, Arthur Harris: pelo fogo serás libertado!
Harris esperou a lua cheia. Na noite do Domingo de Ramos, enviou 234 aeronaves e uma carga de quatrocentas toneladas de bombas, um terço das quais continha combustível. O setor de destruição era o tortuoso bairro dos comerciantes e marinheiros do tempo hanseático; com sua forma insular, banhado pelos rios Trave e Wakenitz, oferecia uma excelente vista aérea. No início do ataque, às 22h30, eram poucos os incêndios visíveis, que só precisaram de vinte minutos para devorar a indefesa metade da ilha voltada para o rio Trave, consumindo armazéns, docas, guindastes e 1.500 preciosas casas, monumentos históricos desprovidos de paredes mestras. No final, 130 quilômetros de fachadas ardiam em chamas. Os prédios destruídos ou danificados perfaziam 62 por cento da área construída. Na cidade antiga, oitocentos mil quilômetros quadrados foram reduzidos a cinzas.
Os bombeiros só conseguiram deter o fogo às dez horas da manhã seguinte. A catedral, cuja construção fora iniciada por Henrique, o Leão, em 1173, não tinha mais salvação. Às 10h30, a cúpula da Torra Norte partiu-se ao meio; às 14 horas, o mesmo ocorreu na Torre Sul. Dois sinos desabaram, o “Pulsglocke”, de 1745, e o “Marienglocke”, de 1390, destruindo a nave irmã, o grande órgão de Arp Schnitger. As bombas de fragmentação que detonaram nas proximidades do coro sacudiram os arcos da abóbada acústica, e a cúpula principal veio abaixo, soterrando o altar-mór de madeira e a cadeira episcopal, construída em 1310.
Sinos destruídos da catedral de Lübeck
Junto com 25 mil bastões incendiários, foram lançadas, pela primeira vez, as bombas de 250 libras carregadas com benzol e borracha sintética. Analisando o ataque alemão contra Coventry, Harris adquiriu conhecimentos sobre a natureza e a dosagem das bombas. Agora, dispunha de uma segunda e valiosa experiência, ou seja, como reagia uma cidade, que a seu ver “mais parecia um braseiro do que uma povoação”, ao ser coberta por um tapete de chamas. Dos 120 mil habitantes, 320 perderam a vida naquela noite; era a maior cifra já alcançada por uma ofensiva aérea britânica.
Ao contrário de Lübeck, a cidade de Coventry, na Inglaterra, era um alvo militar, pois abrigava no centro da cidade a fábrica para motores de avião da Rolls-Royce – NR.