Expansionismo polonês entre 1920 e 39 sempre foi latente
Historiador militar russo publica interessante artigo no portal do próprio Ministério da Defesa, onde expõe os fatos que levaram à eclosão da Segunda Guerra Mundial.
“Historiador militar russo culpa a Polônia pela Segunda Guerra Mundial”
Na página da internet do Ministério da Defesa, da Rússia, apareceu um artigo do historiador Coronel Sergej Nikolajewitsch Kowaljow, que provocou grande alvoroço mundo afora. O Washington Post estampou em sua manchete: “Russian military historian blames Poland for WWII” (Historiador militar russo culpa a Polônia pela Segunda Guerra Mundial, 04/06/2009). Posteriormente o Ministério da Defesa retirou o artigo de sua página da Internet. O artigo apareceu então em outras páginas.
Este desenvolvimento é muito interessante. Não que os fatos históricos tenham acontecido cem por cento desta forma, como representada no artigo, mas ele revela antes de tudo a desarmonia da antiga aliança em prol da mentira. Por isto a aflição no Ocidente. Pode ser também que a Rússia queira pressionar este mesmo Ocidente a entrar mais a fundo no Revisionismo, enquanto durar as hostilidades. Se analisarmos a coisa de perto, a Rússia pode pressionar a atual RFA (República Federal da Alemanha) mais com a verdade histórica do que com fornecimento de petróleo ou gás. Talvez estivesse atrás da decisão de deixar a Opel para os russos, certa insinuação dos russos em direção ao esclarecimento.
Isso não seria uma clara vantagem para nós caso a Rússia mantenha doravante suas mentiras históricas, só porque elas sejam agora pagas com bilhões. Entretanto, é mais provável que o Ocidente, principalmente a RFA, não se livre das garras do Lobby, e que a Rússia se veja impelida a continuar desta forma.
Em todo caso, o artigo não estampa Adolf Hitler como o único culpado pela guerra e isto já é uma sensação, ainda por cima vindo do Ministério da Defesa da Rússia.
O artigo seguinte do historiador militar russo, Coronel Sergej Nikolajewitsch Kowaljow, foi retirado da página do jornal russo Взгляд (Vsgljad, “Blick”) de 4 de junho de 2009. Ele também tinha sido postado originalmente na página da internet do Ministério da Defesa da Rússia, mas foi retirado de lá por protesto da Polônia. Esta versão em alemão (agora traduzida para o português – NR) compreende cerca de 2/3 do texto. A última terça parte tem pouco interesse para o leitor alemão. O tradutor.
Historiador militar russo: Polônia leva uma grande parcela de responsabilidade pela eclosão da Segunda Guerra Mundial
Invenções e falsificações na avaliação do papel da União soviética na véspera e nos primórdios da Segunda Guerra Mundial
A avaliação do papel da União Soviética nos acontecimentos imediatamente anteriores, assim como no início da Segunda Guerra Mundial, faz parte já a algum tempo das discussões entre políticos, pesquisadores e especialistas, e também da opinião pública. Os casos atuais de incidentes anti-russos ligados a esse tema se apoiam frequentemente a uma representação distorcida e falsificada da atividade da liderança soviética durante aquele período. Atualmente é defendida pela mídia de massa, com cada vez mais frequência, que teve início “uma nova guerra fria”. [1] Alguns autores ocidentais escreveram coisas como:
“Já é tempo de olhar para a verdade amarga: a Rússia está de volta, é rica, forte e novamente mal-intencionada (em relação ao ocidente). A parceria está sendo substituída por uma concorrência que toma cada vez mais uma forma ameaçadora. Começou uma nova guerra fria, e como nos anos quarenta do século passado, nós a notamos tarde demais.” [2]
Notável também como países são rotulados levianamente, países estes que são aliados históricos da Rússia. Por exemplo, muitos países da Europa, principalmente Bulgária, Letônia e Moldávia,
“se entregaram à mercê da Rússia”. [3]
Os falsificadores de hoje tentam estampar a União soviética como a instigadora da Segunda Guerra Mundial ou pelo menos imputar a “dois ditadores sanguinários” uma mesma dose de responsabilidade para sua eclosão. Seu argumento preferido é a assinatura do Pacto de Não-Agressão firmado entre a Alemanha e a União Soviética a 23 de agosto de 1939.
Vale sempre lembrar que os “falsificadores de hoje” são os mesmos de ontem – NR
É de conhecimento público que fatos históricos deixam-se interpretar corretamente, quando inseridos no contexto dos fatos que aconteceram em um determinado período. Na análise do Pacto teuto-soviético não se deve esquecer o Tratado de Munique assinado menos de um ano antes. Estes acontecimentos estão bastante ligados entre si, pois o que aconteceu na capital bávara influenciou de várias formas a política da União Soviética.
Quem pesquisou a história da Segunda Guerra sem preconceitos, este sabe que esta começou pela recusa da Polônia em fazer concessões diante das reivindicações alemãs. Pouco conhecido, certamente, é que as reivindicações da Alemanha eram muito sensatas: a integração de Danzig ao Terceiro Reich assim como a permissão para construção de uma rodovia e ferrovia extra-territoriais, que deveriam ligar a Prússia Oriental à parte principal da Alemanha. [4] Ambas as reivindicações dificilmente podem ser rotuladas de insensatas. Os moradores de Danzig, separados da Alemanha em razão do Tratado de Versailles, eram em sua maioria esmagadora alemães [5] que sinceramente queriam a reunificação com sua pátria histórica. Totalmente natural também era a reivindicação em relação aos meios de transporte, mais ainda, pois não foi feito qualquer reivindicação ao território do “corredor polonês” que separava a Alemanha em duas partes. Aliás, a Alemanha nunca aceitou as alterações territoriais introduzidas através do Tratado de Versailles, ao contrário em relação às fronteiras ocidentais. [6]
Mas tais alegações batem sempre em orelhas ensurdecidas. Os néscios analisam somente o minuto anterior à eclosão da guerra e ignoram a verdade dos fatos. Que o mapa da Europa pós-1919 necessitava ser revisto deveria estar claro a todos aqueles amantes da paz. O comportamento megalomaníaco do governo polonês não pode ser mais ignorado – NR
Por estes motivos, a 24 de outubro de 1938, quando a Alemanha propôs à Polônia um acordo para as questões de Danzig e do “corredor polonês”, não pareceu uma complicação da situação. Varsóvia respondeu, todavia, com uma resposta rude e recusou as posteriores propostas alemãs. A Polônia, que ambicionava ser uma Grande Potência, não queria se satisfazer no papel de parceiro júnior da Alemanha. A 26 de março de 1939, a Polônia recusou definitivamente em acatar as exigências alemãs. [8] Como reação, o lado alemão revogou a 28 de abril de 1939 o tratado de amizade e cooperação teuto-polonês, de 1934.
Simultaneamente, as democracias ocidentais alimentaram junto aos poloneses a injustificável ilusão, que iriam prestar o necessário apoio a Varsóvia em caso de guerra. A 31 de março de 1939, o primeiro-ministro britânico, N. Chamberlain diante da Câmara dos Comuns:
“No caso de qualquer ação que represente uma clara ameaça à independência polonesa… o governo de sua majestade se verá no dever de prestar ao governo polonês todo apoio que estiver a seu alcance. Ele deu ao governo polonês uma segurança a esse respeito. Eu me permito acrescentar que o governo francês me autorizou a esclarecer, que ele tem a respeito dessa questão a mesma posição que o governo de sua majestade.” [10]
Como os acontecimentos seguintes comprovam, estas promessas se tratavam de um embuste premeditado. A liderança polonesa acreditou piamente e perdeu com isso a noção da realidade.
Trabalho magistral dos controladores do mundo moderno – NR
O jornalista norte-americano W. Shirer, que conhecia a realidade polonesa graças a trinta anos de experiência, comentou as garantias inglesas à Polônia da seguinte forma:
Pode-se vigiar uma fábrica de pólvora sem problemas, se forem respeitadas as medidas de segurança, porém, vigiar uma fábrica de pólvora, onde loucos notórios se reúnem, não é tão inofensivo assim”. [11]
Os acontecimentos na Europa assim como a crescente agressividade da Alemanha devem ter despertado preocupação na liderança soviética. Parecia ser necessária uma aliança (da URSS – o tradutor) com as democracias ocidentais para colocar Hitler em seu devido lugar, mas Churchill salientou com razão:
Munique e ainda muitas outras coisas convenceram a liderança soviética de que nem a Inglaterra nem a França iriam lutar, até que elas mesmas tenham sido atacadas, e mesmo nesse caso não iria acontecer muita coisa”. [12]
Era notório que o objetivo das potências ocidentais contra Hitler consistia na condução de uma “política de apaziguamento”, orientando uma agressão alemã contra o leste – ou seja, contra a URSS. A 12 de setembro de 1938, N. Chamberlain disse pouco antes de seu encontro com Hitler:
“Alemanha e Inglaterra são dois pilares do mundo europeu e a grande barreira contra o comunismo, e por isso é necessário superar todas nossas atuais dificuldades pelo caminho pacífico… Provavelmente será possível encontrar uma solução que seja aceitável para todos, menos para a Rússia”. [13]
Diante desta situação, a liderança soviética tirou a conclusão de que uma cooperação com a Inglaterra e França seria somente possível caso fosse possível selar antes um Pacto militar, onde as obrigações dos membros fossem definidas claramente e sem ambiguidades.
A 17 de abril de 1939, Moscou almejava a promulgação de um acordo anglo-franco-soviético sobre ajuda mútua, que deveria conter os seguintes pontos:
1. Inglaterra, França e a URSS selam um acordo com validade de cinco anos, onde tenham que garantir impreterivelmente todo tipo de ajuda, incluindo a militar, no caso de uma agressão na Europa a um dos membros signatários.
2. Inglaterra, França e a URSS se obrigam a garantir todo tipo de ajuda, incluindo a militar, aos países entre o Mar Báltico e o Mar Negro em caso de agressão contra um desses países.
3. Inglaterra, França e a URSS se obrigam dentro de um curto prazo a explanar sobre a abrangência e forma da ajuda militar e definir a qual dos países, em cumprimento dos artigos 1 e 2, ela deve ser fornecida.
4. O governo inglês esclarece que a ajuda que ele prometeu à Polônia só é válida em caso de agressão por parte da Alemanha.
5. O acordo existente entre Polônia e Romênia será declarado válido para qualquer agressão contra a Polônia ou Romênia, mas inválido quando orientado contra a URSS.
6. Inglaterra, França e a URSS se obrigam, após o início das agressões, a conduzir isoladamente ou sem a concordância das três potências quaisquer acordos com os agressores ou selar a paz.
7. Um correspondente acordo será assinado simultaneamente com uma convenção, onde seja delineado em concordância com o Artigo 3.
8. Inglaterra, França e a URSS consideram necessário estabelecer negociações conjuntas com a Turquia sobre a conclusão de um pacto em separado sobre ajuda mútua. [14]
Esta proposta não foi obviamente aceita pelos parceiros ocidentais. A 26 de abril, o ministro do exterior, Lord E. Halifax declarou em uma sessão do governo inglês:
“Para uma proposta tão abrangente, o tempo ainda não está maduro”. [15]
Inglaterra e França esperavam que a União Soviética fosse se submeter obrigações unilaterais perante eles. Numa reunião de gabinete, Halifax anunciou a 3 de maio que ele iria colocar a seguinte consulta à Rússia:
“A Rússia está disposta a fornecer à Polônia e Romênia a ajuda que seja solicitada em ocasião propícia a estas, e na forma que elas desejarem?” [16]
A 6 de maio de 1939, o adido comercial soviético provisório em Berlim, G. A. Astachow, informou o Ministério do Exterior (em Moscou) sobre a reação da imprensa alemã a respeito da nomeação de um novo Ministro do Exterior soviético; segundo ele, a imprensa alemã “tentava passar a impressão de uma mudança no curso de nossa política (renúncia da segurança coletiva etc), favorável a eles (os alemães)”. [17] Um dia antes, a 5 de maio, o chefe do departamento para política econômica da seção da Europa Oriental do Ministério do Exterior, K. J. Schnurre, convidou o procurador soviético S. F. Merekalow, que viajou no mesmo dia para Moscou, para lhe informar que o contrato da antiga missão comercial em Praga na Fábrica Skoda, segundo a visão do governo alemão, “deveria ser cumprido”. “À fábrica da Skoda foram passadas certas diretrizes por parte da liderança militar”, assim Schnurre, e assegurou: “Não há qualquer impedimento aparentemente para que a fábrica cumpra suas obrigações”. [18] Isso foi um gesto claro do lado alemão, pois já a 17 de abril, os representantes soviéticos em Berlim tinham protestado contra a “intromissão da liderança militar alemão” na atividade comercial ordinária da missão comercial. [19]
W. M. Molotow demorou para demonstrar reação à sinalização alemã. Através dos representantes diplomáticos da Grã-Bretanha e França, ele manteve ativas negociações com estes dois países. A 8 de maio, o Ministro do Exterior recebia o embaixador inglês W. Seeds, que trouxe por parte de seu governo a resposta à proposta da URSS para selar um acordo de ajuda mútua. A resposta foi desencorajadora. A liderança britânica recomendou ao governo soviético publicar uma explicação, onde ele se comprometia, “no caso em que Grã-Bretanha e França se envolvam em questões bélicas, em cumprimento às obrigações seladas, ele garanta o apoio militar imediato, caso isso seja desejado”. [20] Desta forma, os ingleses se esquivam a uma clara resposta sobre o pacto, e almejam ao invés disso a manifestação pública de uma nova declaração.
No mesmo dia, o Ministério do Exterior soviético informa seu embaixador na França, J. S. Suriz, sobre a proposta inglesa e lhe solicita uma posição sobre a questão. [21] A 10 de maio, Suriz caracteriza a proposta mencionada em um telegrama ao Ministério do Exterior da seguinte forma: “Nos leva automaticamente a uma guerra com a Alemanha”. Este é o caso, pois a Inglaterra e a França “abordaram obrigações (a respeito da Polônia e outros países) conosco sem pacto e concordância”. [22] Apoiado nesta consideração e outras semelhantes, o Ministro do Exterior formulou sua posição.
A 14 de maio de 1939, W. M. Molotow chamou o embaixador britânico W. Seeds e lhe entregou uma nota que continha uma resposta à proposta inglesa. Ali dizia: “As propostas inglesas em relação à URSS não se apoiam ao princípio da reciprocidade e colocam-nas em uma posição diferente. O governo soviético é da posição que o seguinte seja necessário para que os países amantes da paz construam uma barreira contra uma nova onda de agressão na Europa: um pacto efetivo sobre ajuda mútua contra uma agressão; uma garantia das três potências para os países da Europa Central e Oriental ameaçados de agressão, incluindo os países bálticos e a Finlândia; o fechamento de um tratado concreto entre Inglaterra, França e URSS sobre a forma assim como o montante da ajuda”. [23]
A 14 de maio, o embaixador soviético em Londres, I. M. Maiski, fez as seguintes observações sobre as proposições soviéticas; elas colocaram “o governo britânico em uma posição extraordinariamente difícil. Nossas propostas são claras, simples, razoáveis e apelam para a consciência das pessoas simples”. [24] Por outro lado, o embaixador continuou, “as garantias que a Grã-Bretanha concedeu à Polônia, Romênia e Grécia, torna irrecusável o acordo com a União Soviética, pois a Grã-Bretanha e a França nada podem fazer na prática para a Polônia ou Romênia. Até que um bloqueio britânico contra a Alemanha seja uma séria ameaça, a Polônia ou Romênia não existirão mais”. [25]
Somente a 25 de julho os governos ingleses – e um dia depois o francês – receberam a proposta soviética para iniciar negociações sobre o acordo de uma convenção militar, e anunciaram sua predisposição em enviar um representante para a Moscou. [26] O início das negociações aconteceu a 12 de agosto.
O decorrer destas infrutíferas negociações é bem conhecido, sendo que nós não precisamos discorrer longamente sobre isso. Importante notar somente os objetivos reais, que ambos os lados perseguiam. Por exemplo, as instruções para a delegação britânica enviada a Moscou previam “conduzir as negociações de forma extremamente lenta” [27] e evitar entrar em obrigações concretas: “O governo britânico não deseja detalhar obrigações, que poderiam atar nossas mãos em determinadas circunstâncias. Em relação à questão sobre um acordo militar, deseja-se formulações possivelmente generalistas”. [28]
A liderança soviética tomou outra posição. O chefe da delegação francesa, General J. Doumenc, que informava o Ministério da Guerra sobre todas as negociações, constatou a 17 de agosto de 1939 em um telegrama: “Não há dúvidas que a URSS deseja selar um pacto militar, e não quer que nós apresentemos um documento qualquer que não tenha um significado concreto”. [29]
A principal pedra no sapato foi a questão da transposição do território da Polônia e Romênia pelas tropas soviéticas. Naquela época a União Soviética não possuía uma fronteira comum com a Alemanha. Sob estas circunstâncias não estava claro como tropas soviéticas poderiam atacar o exército alemão. Por este motivo, (o Ministro da Defesa soviético) K. E. Woroschilow colocou a seguinte questão durante a reunião da delegação militar a 14 de agosto: “No geral está tudo entendido, somente a posição das tropas armadas da União Soviética não está totalmente clara. Não se entende muito bem, através de quais territórios elas devam estacionar e como elas deverão participar fisicamente de uma batalha”. [30] Para que o Exército Vermelho possa participar da luta já nos primeiros dias de guerra, as tropas soviéticas devem atravessar regiões polonesas. Aqui devem estar bem delimitadas as zonas que elas avançariam: a região de Wilnus (o conhecido “corredor de Wilnus”) assim como Galícia. [31] Em um telegrama ao Ministério da Guerra em Paris, o chefe da delegação francesa, General J. Doumenc, a 15 de agosto de 1939, faz a seguinte observação: “Eu chamo a atenção que o seguinte fato é muito importante para amenizar os temores poloneses: os russos delimitam zonas que se orientam exclusivamente sob aspectos militares”. [32]
Naturalmente os poloneses não queriam ouvir nada sobre isso. Ao entardecer de 19 de agosto, o Marechal Rydz-Smigly explicou: “Sem consideração às consequências não será permitido às tropas russas a ocupação de nem uma polegada de território polonês”. [33] E o Ministro do Exterior polonês, J. Beck, comunicou ao embaixador francês em Varsóvia, L. Noël : “Nós não permitiremos que seja ao menos discutido a utilização de parte de nosso território por tropas estrangeiras, seja a forma que for”. [34]
Em um relatório (sobre atividades de reconhecimento) do segundo departamento do Quartel General do exército polonês, datado de dezembro de 1938, foi determinado: A política polonesa no leste baseia-se na fragmentação da Rússia… Por isso nossa possível posição seguirá a seguinte fórmula: quem participará da divisão? A Polônia não deverá assumir uma posição passiva nesta perspectiva histórica. Nossa tarefa é nos preparar física e espiritualmente… O objetivo principal é o enfraquecimento e a derrota da Rússia”. [35]
Em suas negociações de caráter militar com a Grã-Bretanha e França, a União Soviética pode se convencer mais uma vez, como tinha razão um diplomata lituano, ao qual G. A. Astachow fez menção em seu diário, com a seguinte frase: “Em caso de guerra, a URSS apresentará o maior número de vítimas, enquanto a Inglaterra e a França se entrincheirarão e se contentarão com troca de tiros e disparos de canhões. Ações decisivas não acontecerão na frente ocidental”. [36]
Como a URSS não conseguiu nada palpável com os ingleses e franceses, ela selou um pacto de não-agressão com a Alemanha.
O que diz respeito ao aspecto moral, salienta-se que os representantes das democracias ocidentais não tinham razão em condenar o pacto da URSS com a Alemanha. Acertadamente, o jornalista norte-americano observou: “Se Chamberlain se comportou de forma honesta e nobre, quando veio de encontro a Hitler em 1938 e cedeu a ele em 1938 a Tchecoslováquia (correto: a região dos Sudetos – Nota do Tradutor), por que Stalin seria desonesto e baixo quando ele veio de encontro a Hitler um ano depois, e lhe cedeu a Polônia, que rejeitou qualquer ajuda soviética?” [37]
O mesmo pode se dizer daqueles que julgam os acontecimentos sob a ótica das chamadas normas da política externa de Lênin, onde a União Soviética supostamente se contradisse com o pacto com a Alemanha. A União Soviética selou um pacto de não-agressão com a Alemanha e como resultado, Alemanha, Inglaterra e França se atracaram, ao invés de forjarem uma aliança contra a URSS. Esta última teve então a possibilidade, após outras potências entrarem na guerra, em se reservar certa liberdade para escolher ao lado de quem ela iria lutar.
A liderança soviética analisou o desenvolvimento do início da Segunda Guerra Mundial e chegou à conclusão, a qual J. W. Stalin formulou a 7 de setembro na ocasião de uma reunião da liderança do Komintern: “A guerra se desenvolve entre dois grupos de países capitalistas… para a reformulação do mundo, para o domínio mundial! Nós não somos contra que um caia pesadamente sobre o outro e se enfraqueçam mutuamente… Nós podemos manobrar, incitar um lado contra o outro, para que eles possivelmente se dilacerem por completo”. [38]
Temos que considerar o fato de que as tropas soviéticas travaram no verão de 1939, junto ao rio Chalchin-Gol, uma luta sangrenta contra os japoneses. Como o Japão estava aliado à Alemanha através do pacto Anti-Komintern, o acordo teuto-soviético foi considerado em Tóquio como traição. Sob este pretexto, o procurador temporário da URSS no Japão, N. I. Generalow, anunciou em um telegrama a 24 de agosto: “A notícia do Pacto de Não-Agressão entre a URSS e a Alemanha deixou uma miserável impressão e abalou profundamente o exército assim como os círculos fascistas”. [39]
As relações entre o Terceiro Reich e seus aliados do Oriente foram submetidas a um teste. Em consequência disso, os grupo dominantes no Japão se decidiram por uma “variante sul”, que previa uma guerra contra a Inglaterra e os EUA. Como é conhecido, o Japão não entrou em guerra com a União Soviética após o ataque alemão contra a URSS.
Com isso, através do acordo comercial teuto-soviético a 19 de agosto de 1939, assim como a assinatura do chamado Pacto Molotow-Ribbentroop a 23 de agosto, a URSS pode manter a guerra afastada de suas fronteiras.
Sergej Kowaliow
Sergej Nikolajewitsch Kowaljow é diretor do departamento de pesquisa científica para História Militar da região noroeste da Federação Russa, junto ao Instituto para História Militar do Ministério da Defesa da Federação Russa. Ele é Coronel assim como Doutor em História, e vive em São Petersburgo.
Sobre os acontecimentos imediatamente anteriores à eclosão da Segunda Guerra Mundial, recomendamos que todas assistam a Palestra do General da reserva Gerd Schultze-Rhonhof – NR
Sobre como os governos poloneses do pós-guerra surrupiaram grande parte do território alemão, leiam o artigo Tratado de Paz com a Alemanha – NR
Artigo publicado originalmente em nosso site a 17/06/2009.
1) http://www.inosmi.ru/translation/239456.html
2) Ebenda.
3) Ebenda.
4) M. I. Meltjuchow, “Sowjetsko-polskie wojny” [A guerra polaco-soviética], Moscou 2004, Pág. 285.
5) No ano de 1924, 95% dos 384.000 habitantes de Danzig e regiões próximas eram alemães. “Grande Enciclopédia Soviética”, 1. Edição, Vol. 20, Moscou 1930, Pág. 414.
6) Ebenda.
7) Veja nota 4, Pág. 285.
8) Ebenda, Pág. 4
9) “God krisisa” [O ano da crise], Dois volumes, Moscou 1990, Vol. 2, Pág. 392.
10) Ebenda, Vol. 1, Pág. 351.
11) Citado segundo J. F. Fuller, “Wtoraja mirowaja wojna” [A Segunda Guerra Mundial], Moscou 1956, Pág. 37.
12) W. Churchill, “Wtoraja mirowaja wojna” [A Segunda Guerra Mundial], Três livros, Livro 1, Pág. 173.
13) Veja nota 9, Vol. 1, Pág. 6.
14) Ebenda, Pág. 386, 387.
15) Ebenda, Vol 2, Pág. 391.
16) Ebenda.
17) “Documento da política externa da URSS: 1939. Vol. XXII”. Em dois livros, Moscou 1992, Livro 1, Pág. 339.
18) Ebenda, Pág. 338.
19) Veja nota 9, Vol 1, Pág. 389.
20) Ebenda, Pág. 438, 439.
21) Veja nota 17, Livro 1, Pág. 342.
22) Ebenda, Pág. 355.
23) Ebenda, Pág. 363.
24) “Otscherki istorii Ministerstwa inostrannych del Rossi: 1802-2002” [Fenda de uma história do Ministério do Exterior: 1802-2002], três volumes, Moscou 2002, Vol. 2, Pág. 245.
25) Arquivo da política externa da Federação Russa, F. 017a, Op. 1, P. 1, D. 6, L. 130.
26) Veja nota 9, Vol. 2, Pág. 403.
27) “Documento e materiais sobre a véspera da Segunda Guerra Mundial. 1937-1939”, dois Volumes, Moskau 1981, Pág. 168.
28) Veja nota 9, Vol 2, Pág. 192, 193.
29) Ebenda, Pág. 267.
30) Ebenda, Pág. 212.
31) Ebenda, Pág. 216.
32) Ebenda, Pág. 228, 229.
33) L. Mosley “Utratschennoje Wremja” [Tempo perdido], Moscou 1972, Pág. 301.
34) Veja nota 9, Pág. 279.
35) Z dziejów stosunków polsko-radzieckich [Da história das relações polaco-soviéticas], Vol. 3, Varsóvia 1968, Pág. 262, 287.
36) Veja nota 17, Livro 1, Pág. 588.
37) Veja nota 12, Vol. 2, Pág. 212.
38) “1941 god” [O ano 1941], dois livros, Moscou 1998, Livro 2, Pág. 584.
39) Veja nota 9, Vol. 2, Pág. 322.