A agressão israelita contra o Irã aumentou consideravelmente o risco de desestabilização completa de todo equilíbrio de forças do Oriente Médio. O dia 13 de junho de 2025 pode entrar na história como o início de uma nova era. Com o ataque norte-americano a 22 de junho contra 3 instalações iranianas de geração de energia nuclear, aumenta o risco de acontecer um conflito generalizado.
O bravateiro irresponsável
Como justificativa para o ataque, Netanyahu alega que o programa nuclear do Irã deve ser destruído. Todavia, há mais de 30 anos Benjamin Netanyahu viaja pelo mundo afirmando que o Irã estaria a poucos meses de construir armamentos nucleares.
Em março deste ano, a chefe do Serviço de Inteligência Nacional dos EUA, Tulsi Gabbard, afirmou diante de um comitê no Senado que era consenso dos seviços nacionais de Inteligência, o Irã não possuia armas nucleares e precisaria pelo menos 3 anos para fabricá-las. O próprio Irã afirmou recentemente que abre mão da fabricação de armas nucleares, embora isso seja totalmente legítimo, decisão inerente e exclusiva de qualquer nação soberana. Na região existe apenas um país que não permite qualquer tipo de inspeção e conduz um programa nuclear em completo sigilo, Israel.
O ataque ao Irã aconteceu com apoio dos EUA, durante um processo de negociação deste com Irã. Militares de alta patente assim como cientistas envolvidos no programa nuclear iraniano foram assassinados. Comandos israelitas atuando dentro do próprio Irã sabotaram e destruíram importantes pontos de vigilância e outras instalações militares daquele país.
De acordo com o Direito Internacional, o ataque é condenado pelo menos por dois motivos. Um ato de agressão contra um país soberano, da mesma forma como a Rússia atacou a Ucrânia. E segundo, de acordo com convenções internacionais, é condenável ataques contra instalações nucleares, pois coloca em risco toda população civil que habita seu entorno. Basta lembrar da recente histeria e iminente perigo diante do ataque por drones contra a usina atômica em Zaporizhzhya, na Ucrânia. Frequentemente afirma-se que o Irã seja o principal responsável pelo terrorismo islâmico. Entretanto, existem no Irã diversas igrejas, na Arábia Saudita, não. O Irã tem uma minoria cristã e judaica. Como já reportamos no passado, esta última é a maior comunidade judaica no Oriente Médio fora de Israel. Eles têm até mesmo um deputado judeu no Parlamento.
O terrorismo islâmico na Síria e também em vários paíse europeus é responsabilidade em grande parte do chamado Ocidente. Os EUA, Israel, Alemanha, França e outros países europeus contribuíram para que o regime secular relativamente estável de Bashar al-Assad fosse derrubado não importasse como, e alí se instaurasse um
regime de terror que persegue e assassina minorias. Seu líder é um combatente que até a poucos anos tinha um prêmio de 10 milhões de dólares por sua captura, pois os EUA o classificava como “terrorista”.
Geopolítica
A sucessão de guerras provocadas pelo aparecimento do “Estado judeu” desde sua fundação, em 1948, parece levar a situação no Oriente Médio a um domínio amplo por parte de Israel ou poderemos ter um arranjo geopolítico onde impere a paz na região?
Os ataques israelitas contra as instalações nucleares do Irã (92 milhões de habitantes) não conseguiram destruí-las, pois Israel não tem as armas necessárias para tal empreitada e até mesmo após o ataque norte-americano, depois de pouco mais de uma semana, trouxe dúvidas sobre os danos efetivos provocados nas instalações. A peculiar geografia do Irã dificulta a tomada de seu território por exércitos inimigos.
A resposta do Irã está castigando diversas cidades em Israel, principalmente Tel-Aviv e Haifa. Aparentemente Israel falhou miseravelmente na avaliação do poder de resposta do Irã.
Os EUA atacam o Irã
Em 22 de junho de 2025, o presidente dos EUA, Donald Trump, ordenou um ataque ao Irã, violando o direito internacional. Durante sua campanha, Trump prometeu acabar com as “guerras sem fim” dos EUA. Trump quebrou essa promessa. Ele próprio atacou um país que não representava nenhuma ameaça aos EUA. Trump enganou seus eleitores; sua guerra ilegal de agressão contra o Irã demonstra que ele é um presidente imperial, assim como seus antecessores Biden, Obama, Bush e Clinton, todos os quais também travaram guerras ilegais.
Como parte da “Operação Martelo da Meia-Noite”, sob ordens de Trump, submarinos e bombardeiros furtivos B2 atacaram as instalações nucleares de Fordow, Isfahan e Natanz. Os bombardeiros partiram dos Estados Unidos e reabasteceram diversas vezes em pleno ar. Isfahan foi atacada com 30 mísseis de cruzeiro Tomahawk lançados de um submarino da Marinha dos EUA. Os bombardeiros B2 lançaram as bombas antibunker mais pesadas do arsenal militar americano, a GBU-57, sobre as instalações de Natanz e Fordow. Essas bombas pesam mais de 13 toneladas e podem penetrar rochas ou concreto armado até 60 metros antes de explodir. O Exército dos EUA declarou ter usado 14 dessas bombas pesadas, marcando o primeiro uso operacional dessa arma, que custa mais de US$ 3 milhões cada.
O presidente dos EUA, Trump, violou claramente a proibição da ONU ao uso da força, como explicou o especialista em direito internacional Jochen von Bernstorff. “Vejo pouca margem para justificativa no Direito Internacional”, disse o professor de Direito Internacional da Universidade de Tübingen. Os próprios americanos não foram atacados, portanto, não se tratou de legítima defesa individual. O ataque do presidente Trump ao Irã foi, portanto, “claramente ilegal”. Como o argumento da legítima defesa é unanimemente inaplicável no caso de Israel, von Bernstorff acredita que os EUA também não podem invocar a legítima defesa coletiva. “Isso não dá aos americanos o direito de apoiar militarmente os ataques israelenses.” Se o Irã é uma democracia ou uma ditadura, e se o país possui armas nucleares ou está em processo de construí-las, é irrelevante, explicou von Bernstorff. “O Direito Internacional não faz distinção entre um regime mulá e uma democracia no que diz respeito à proibição do uso da força”, continuou von Bernstorff. Considerações políticas — como o fato de que a República Islâmica não deveria possuir armas nucleares — não desempenharam nenhum papel na questão, segundo o Direito Internacional, de se pode ou não usar a força contra outro estado.