Na edição de hoje da Folha, o colunista Hélio Schwartzman critica a iniciativa de movimentos negros que almejam censurar as obras politicamente incorretas, como o caso recente do autor Monteiro Lobato. Mas até onde conceitos passados são de fato permitidos e debatidos sem o constrangimento do atual “political correctness”?
Analfabetismo histórico
Chega a ser surreal. Um grupo de “intelectuais” se acha no direito de ceifar obras de autores célebres do passado para que as gerações futuras não orbitem em torno daquelas “odiosas insanidades” de seus antepassados. Hélio Schwartzman resume bem a questão em seu artigo de hoje no jornal Folha de São Paulo:
O movimento negro, bem como outros grupos que tentam reduzir os níveis de intolerância na sociedade, tem toda a minha simpatia. Isso dito, é ridículo o que estão tentando fazer com Monteiro Lobato. Se a iniciativa legal, que já chegou ao Supremo, prosperar, o autor poderá ter parte de sua obra banida das bibliotecas escolares.
Não há a menor dúvida de que Lobato se utiliza de expressões que hoje soam rematadamente racistas, como o termo “macaca de carvão”, para referir-se à Tia Nastácia. A questão é que estamos falando de escritos dos anos 30, época em que quase todo mundo era racista. E, se há um pecado mortal na crítica literária e na análise histórica, é o de interpretar o passado com os olhos de hoje.
“Não sou nem nunca fui favorável a promover a igualdade social e política das raças branca e negra… há uma diferença física entre as raças que, acredito, sempre as impedirá de viver juntas como iguais em termos sociais e políticos. E eu, como qualquer outro homem, sou a favor de que os brancos mantenham a posição de superioridade.”
Odioso, certo? Também acho. Mas, antes de condenar o autor da frase ao inferno da intolerância, convém registrar que ela foi proferida por Abraham Lincoln, o presidente dos EUA que travou uma guerra civil para libertar os negros da escravidão.
E Lincoln não é um caso isolado. Encontramos pérolas racistas em ditos de Gandhi e Che Guevara. Shakespeare traz passagens escancaradamente antissemitas, Eurípides era um misógino e Aristóteles defendia com empenho a escravidão. Vamos banir toda essa gente das bibliotecas escolares?
A verdade é que todos somos prisioneiros da mentalidade de nossa época. Há sempre um horizonte de possibilidades morais além do qual não conseguimos enxergar. Aplicar critérios contemporâneos para julgar o passado é uma manifestação de analfabetismo histórico.
[Folha de São Paulo, 19/09/2012]
Obra de Goethe também é censurada
Mas devemos lembrar que isso não é exclusividade dos movimentos afro-descendentes brasileiros e seus simpatizantes. Esta moda em vilipendiar obras do legado literário da humanidade é conduzida exemplarmente por diversas organizações sionistas. Uma nova edição das “obras completas” de Goethe lançado pela editora judaica Artemis, por exemplo, suprimiu vários parágrafos do Volume 4, referente ao texto “Das Jahrmarktsfest zu Plundersweiler”.
Vejamos o trecho da obra de Goethe, censurado na surdina:
“Du kennst das Volk, das man die Juden nennt….
sie haben einen Glauben, der sie berechtigt, die Fremden zu berauben…
Der Jude liebt das Geld und fürchtet die Gefahr.
Er weiss mit leichter Müh’ und ohne viel zu wagen,
durch Handel und durch Zins Geld aus dem Land zu tragen…
Auch finden sie durch Geld den Schlüssel aller Herzen,
und kein Geheimnis ist vor ihnen wohl verwahrt…
Sie wissen jedermann durch Borg und Tausch zu fassen;
der kommt nicht los, der sich nur einmal eingelassen…”
Tradução:
Você conhece o povo que é denominado judeu,…
eles têm uma crença, a qual os permite roubar os estranhos…
O judeu ama o dinheiro e teme o perigo.
Ele sabe sem muito esforço e sem hesitar,
através do comércio e dos juros, retirar o dinheiro do país…
Também com o dinheiro eles encontram a chave de todos os corações,
e nenhum segredo está protegido deles…
Eles sabem como pegar alguém através de empréstimo e escambo;
não se pode escapar, uma vez em sua influência…
Tom Sawyer politicamente corretíssimo…
Outro caso recente foi a mutilação da obra de Mark Twain “As aventuras de Tom Sawyer e Huckleberry Finn”. Para o curador do prêmio Jabuti, José Luiz Goldfarb, intervir numa obra não é a solução. “Há peças de Shakespeare em que o judeu é apresentado como vilão. Eu sou judeu e não vou deixar de ler Shakespeare por isso”, diz. “É polêmico, mas o caminho não é mutilar uma obra de arte.” Exato, ao invés de apelar para a perseguição, distorção do código penal e constrangimento moral, a sociedade deveria promover o amplo debate sobre estes tabus modernos.
Charles Dickens também não escapou do crivo dos censores. A mais nova versão da refilmagem de sua obra Oliver Twist, teve um de seus personagens descaracterizado: na obra de Dickens, o vigarista Fagin é um judeu, como bem podemos ver nesta versão mais condizente com a obra do autor inglês. Na versão atual, todo e qualquer traço, que possa lembrar os telespectadores deste detalhe, foi suprimido.
Já é tempo para a razão e a razoabilidade voltarem a nortear os rumos políticos, econômicos e sociais.
Artigo publicado pela primeira vez em nosso portal a 19/09/2012.
E ainda existem tantos coniventes com essas obscenidades, tipo subverter a literatura.
O pior de tudo é a “cara-de-paisagem” ao dizerem: “Cê tá procurando pelo em ovo!” ou “Isso é coisa de recalcados!” ou “Pronto! Outra teoria da conspiração!”; etc.
Dissimulação é um dos “superpodrespoderes” dessa turma.
STF nega pedido para suspender livro de Monteiro Lobato em escolas públicas
O ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), negou pedido de liminar para suspender a distribuição, em escolas públicas, do livro Caçadas de Pedrinho, de Monteiro Lobato, obra publicada em 1933.
O ministro rejeitou pedido do Instituto de Advocacia Racial (Iara), por entender que não cabe ao Supremo julgar mandado de segurança contra ato do Ministério da Educação. O instituto alegou que a publicação apresenta conteúdo racista.
http://www.jb.com.br/cultura/noticias/2014/12/23/stf-nega-pedido-para-suspender-livro-de-monteiro-lobato-em-escolas-publicas/