Capítulo 2.21 das Lições sobre o Holocausto. Introdução à controversa discussão em torno do artigo de reconhecido redator da revista Der Spiegel, Fritjof Meyer, sobre o número de vítimas de Auschwitz.
R. No início de 2002, historiadores alemães foram acometidos por um terremoto. Em artigo publicado num periódico, o redator chefe Fritjof Meyer da revista Der Spiegel, de Hamburgo, defendeu a seguinte tese: [218]
“Quatro milhões de vítimas nos campos de trabalho e extermínio Auschwitz-Birkenau foram contabilizado pela comissão soviética de investigação, um produto da propaganda de guerra. O comandante do campo, Höß, mencionou sob pressão 3 milhões e reconsiderou depois. Quantas pessoas foram realmente vítimas deste extermínio singular, podem ser, no momento, somente estimadas. O primeiro historiador do Holocausto, Gerald Reitlinger, aponta a cifra de um milhão, todavia, as últimas pesquisas indicam algumas centenas de milhares a menos.” (p. 631)
R. Meyer conferi ao número de vítimas de Auschwitz uma nova cifra que ao mesmo tempo quebra um recorde de mínimo:
“Estas considerações levam ao resultado de que, em Auschwitz, foram assassinadas meio milhão de pessoas, dentre elas cerca de 356.000 com gás.” (p. 639)
P. Como ele justifica esta redução?
R. Ele argumenta em dois planos. Primeiro é da opinião de que as câmaras de gás dos crematórios teriam se revelado inutilizáveis tecnicamente e por isso não foram utilizadas para o extermínio em massa:
“Aqui não pode ser aprofundado, pois as provas existentes, a saber, os documentos sobre uma reforma das construções originais não executadas [crematórios] (por exemplo com aberturas para lançamento do gás e equipamento do nível de gás), não apontam para um ‘porão de gaseamento’ (Vergasungskeller), assim como os depoimentos das principais testemunhas apontam sim para uma experiência em março/abril de 1943, onde as câmaras mortuárias deveriam servir para o extermínio após a conclusão dos crematórios no início do verão de 1943. Aparentemente, isso falhou, porque a ventilação era contra-produtiva e o contingente esperado de futuras vítimas não se apresentou”. (p. 632)
P. Mas Meyer ainda confirmou 356.000 mortos por gás!
R. Estes devem ter sido mortos em velhos barracos:
“O genocídio cometido de fato aconteceu provavelmente em sua maior parte em dois barracos reformados, fora do campo”. (p. 632)
P. Os barracos tinham melhor ventilação?
R. Eles não tinham qualquer espécie de instalação de ventilação.
P. Como pode a morte por gás ter fracassado por motivos técnicos nos novos crematórios construídos devido à ineficiência das instalações para ventilação; todavia, porém, ter funcionado nos primitivos barracos sem qualquer ventilação?
R. Você colocou o dedo na ferida. Eu não gostaria de analisar aqui os argumentos de Meyer, mas sim somente mencionar seu ponto de vista. A segunda linha de argumentação baseia-se na tese de Meyer: a capacidade de cremação dos crematórios de Birkenau não era suficiente para incinerar o alegado número de vítimas. Ele refere-se a esta argumentação em sua nota de rodapé 19 (e depois mais uma vez na nota 21), mencionando a seguinte obra:
“Carlo Mattogno/Franco Deana: os fornos crematórios de Auschwitz em […] Ernst Gauss (Ed.): Fundamentos da História Contemporânea, Tübingen 1994, pg. 310. […] De outro lado, os ‘Revisionistas’ colecionaram vários detalhes pertinentes, […] Suas descobertas chegaram a confundir o respeitável filósofo historiador Ernst Nolte e também David Irving, porém, foram ignoradas como caminho de pesquisa ou até desafio. O jurista Ernst (correto é Wilhelm) Stäglich (‘O Mito de Auschwitz’), […] foi o primeiro a reconhecer as justificadas dúvidas a cerca de inúmeras passagens das anotações de Höß na prisão”. (p. 635)
P. Um diretor de redação da Spiegel cita fontes revisionistas radicais e até as elogias sobre a relva verde?
R. Não é bem assim. Eu ignorei aqui as injúrias verbais de Meyer contra os revisionistas. Mas o fato permaneceu: um diretor de redação da Spiegel faz referência aos revisionistas.
Pouco depois, Meyer aborda em detalhes as declarações de Rudolf Höß, o comandante de Auschwitz daquela época. Sobre este tratamento por seus carcereiros ingleses, Meyer relata:
“Após 3 dias sem dormir, torturado, espancado após cada resposta, despido e levado à embriaguez, a primeira confissão foi obtida sob ‘contundentes provas’. Assim declarou o próprio Höß: ‘O que está escrito no protocolo eu não sei, embora eu o tenha assinado. Álcool e chicote foram o bastante para mim!’ As 2:30 da noite, ele redigiu com dificuldades estas frases: somente em Auschwitz, segundo minhas estimativas, morreram cerca de 3.000.000 de pessoas. Eu acho que aproximadamente 2.500.000 foram gaseadas.” (p. 639)
A seguir Meyer descreve em detalhes as diversas torturas às quais Höß fora submetido, e aponta a impossibilidade das cifras que descrevera.
P. Isso vai…
R. …espere, nós ainda não acabamos. Em um e-mail endereçado a mim, Meyer revela coisas surpreendentes; ele considera o livro de Miklos Nyiszli[325], uma testemunha das câmaras de gás de Auschwitz frequentemente citada, como algo redigido em público, e o relato de Filip Muller, uma outra testemunha bastante citada, como um romance. [326]
P. Isso é uma cisão na historiografia. Os eternos saudosistas tornam-se de repente aqueles que levam a tocha do moderno!
R. A gente pode imaginar qual foi a repercussão que este artigo provocou, levando-se em conta as diferentes reações. [327] De nenhum lado a tese de Meyer foi poupada.
P. Como Meyer reagiu a estes ataques?
R. A princípio ele manteve sua tese e defendeu sua argumentação. [328]
P. Possivelmente, Fritjof Meyer trata-se de um simpatizante dos revisionistas!
R. Isso a gente pode descartar com segurança. Pois em uma de suas conclusões finais sobre esta controvérsia, Meyer declara: [329]
“Agora cresce a impressão, que eles (os ‘radicais de direita’ e os ‘negadores do holocausto’) poderiam instrumentalizar minha tese para uma propaganda de abrandamento. Por isso eu não quero prosseguir o debate em público […] À vista do perigo atual na Itália, França, Rússia, EUA, permanece o objetivo de esmagar os fascistas, onde forem encontrados”.
P. Isso soa como apologia à violência contra aqueles que pensam diferente.
R. Sim. Isso basta para indicar como o diretor chefe da Spiegel lida com o contraditório.
P. Mas Meyer refere-se aos fascistas e não aos revisionistas.
R. Eu não estou tão certo que ele faça aqui alguma diferenciação. A escolha de suas palavras indica, ao contrário, que ele joga em um único caldeirão todo o resultado da equação: revisionista = negador de Auschwitz = extremista de direita = fascista, o que não deixa de ser típico da revista Der Spiegel.
R – Germar Rudolf
P – Público
[325] M. Nyiszli, Im Jenseits der Menschlichkeit. Ein Gerichtsmediziner in Auschwitz. Dietz Verlag, Berlin 1992.
[326] E-mail de R. Meyer para G. Rudolf, 8/11/2002
[327] De páginas publicadas na internet em: idgr.de/texte/geschichte/ns-verbrechen/fritjof-meyer/index.php; principalmente F. Piper, historiador do Museu de Auschwitz; compare com a réplica de John Zimmerman, “Fritjof Meyer and the number of Auschwitz victims: a critical analysis”, Jornal of Genocide Research, 6(2) (2004), p. 249-266
[328] F. Meyer, “Réplica a Piper”, http:// idgr.de/texte/geschichte/ns-verbrechen/fritjof-meyer/meyer-replik-auf-piper.php
[329] Carta aberta de 12 de fevereiro de 2004, www. idgr.de/texte/geschichte/ns-verbrechen/fritjof-meyer/meyer-040212.php