“Nós não queríamos e não podíamos colocar em jogo nosso bem-estar construído a duras penas. Assim apareceu o paradoxo: o objetivo da Entente só poderia ser alcançado através da guerra, o objetivo da Alemanha somente sem a guerra.”
Cronograma até a deflagração da Guerra Mundial
28 de junho de 1914 – Assassinato do herdeiro ao trono austríaco, Franz Ferdinand, em Sarajevo
23 de julho – Ultimato da Áustria à Sérvia
25 de julho – Mobilização da Sérvia
28 de julho – Declaração de guerra da Áustria contra a Sérvia
31 de julho – Mobilização da Rússia
01 de agosto – A Inglaterra mobiliza sua frota às 1:15hs; às 3:50, a França se mobiliza; às 5:00, a Alemanha, e segue a declaração de guerra alemã contra a Rússia
03 de agosto – Declaração de guerra contra a França. A Alemanha pede à Bélgica permissão para marchar por seu território, o que foi negado; invasão da Bélgica
04 de agosto – Inglaterra declara guerra contra a Alemanha
05 de agosto – Áustria declara guerra contra a Rússia
Kaiser Wilhelm II analisou posteriormente a questão da culpa alemã da seguinte forma:
“A situação geral do Reich alemão se constituía de forma cada vez mais esplêndida antes da guerra e, conseqüentemente, sempre mais difícil na política externa. Um nunca antes visto crescimento na indústria, comércio e transporte global produziram um bem-estar na Alemanha. A curva do crescimento manteve-se apontada para cima. A respectiva conquista pacífica de considerável parcela do comércio mundial, … não foi agradável a outros povos do mundo, principalmente aos ingleses. [147]
Nossa situação tornou-se mais difícil, pois nós fomos forçados a construir uma frota para proteção de nosso bem-estar, que não se baseava somente nos 19 bilhões anuais de importações e exportações alemãs. A alegação que nós queríamos construir uma frota para atacar e destruir a bem maior frota inglesa é absurda, pois nós não conseguiríamos vencer visto as reais relações de forças marítimas. Nós avançamos, como desejado, no comércio mundial; nós não podíamos reclamar de nada. Por que então deveríamos arriscar o sucesso de nosso trabalho pacífico?
Na França, desde 1870/1871, o pensamento da revanche tinha sido alimentado cuidadosamente. [148] … Alsácia-Lorena, porém, é território alemão há muitos séculos. Foi roubado pela França, nós recuperamos em 1871 o que já nos pertencia. Por isso foi uma guerra revanchista, que havia por objetivo a conquista de territórios alemães seculares, de forma injusta e amoral. … a Alemanha, ao contrário, não tinha qualquer motivo de colocar em jogo as conquistas de 1870/1871, tinha que ter o efeito de manter a paz com a França,…
Na Rússia, [149] as coisas estavam de tal forma que o gigantesco Reich czarista forçava uma passagem para o mar ao sul. … Mais além, havia a diferença russo-austríaca, principalmente por causa da Sérvia, e que afinal atingia a Alemanha, pois esta e o Império Austro-húngaro eram aliados. Além disso, a Rússia czarista estava em contínua agitação, e cada governo czarista achava vantajoso manter de prontidão a possibilidade de um conflito externo para poder desviar as atenções da situação interna através das dificuldades externas, possuir uma válvula para os conflitos internos…
Nós não queríamos e não podíamos colocar em jogo nosso bem-estar construído a duras penas. Assim apareceu o paradoxo: o objetivo da Entente só poderia ser alcançado através da guerra, o objetivo da Alemanha somente sem a guerra.
Nossa posição foi reconhecida acertadamente por nós. Nós agimos de forma correspondente.” [150]
Não cabe aqui analisar o decorrer da guerra, assim como discutir algumas notas de paz. A 28 de junho de 1919, ou seja, exatamente cinco anos depois do assassinato em Sarajevo, foi assinado o “Tratado de paz” de Versailles, onde a culpa da guerra foi imposta à Alemanha. [151] Importante aqui, o governo do Reich somente aceitou este ditado sob enorme pressão. Marechal Foch, que após o cessar-fogo ocupou militarmente Mainz, Koblenz e Colônia, recebeu ordem de seu governo para continuar marchando no interior do Reich caso o governo alemão não estivesse pronto a aceitar. Além disso foi imposto um bloqueio marítimo até a assinatura, onde além dos cerca de 2 milhões de alemães mortos, ainda 750.000 pessoas poderiam morrer de inanição. O governo do Reich declarou a 23 de junho de 1919:
“O governo da república alemã viu com assombro diante do último comunicado dos governos aliados e associados, que estes estão decididos em forçar a Alemanha à aceitação daquelas condições de paz através de extrema violência, que… perseguem o objetivo de retirar a honra do povo alemão. A honra do povo alemão não será tocada através de um ato violento. Para se defender externamente, falta ao povo alemão os devidos meios após o terrível sofrimento dos últimos anos. Sensível ao poderio superior e sem desistir de sua posição sobre a enorme injustiça das condições de paz, o governo da república alemã declara que ele está disposto a … aceitar as condições de paz e assiná-las.” [151]
Antes de adentrar nas particularidades do ditado de Versailles e suas conseqüências, deve-se aqui rascunhar a derrocada do Reich, onde os termos a serem analisados são “Revolução de novembro” (November-Revolution) e “Punhalada” (Dolchstoß). Pois os partidos de esquerda KPD, SPD, assim como suas dissidências, os “Independentes” (USPD), organizaram a derrocada principalmente através de greves em fábricas vitais para os esforços de guerra (p. ex. fábricas de munições) assim como motins e levantes na marinha e exército. As primeiras greves aconteceram em janeiro de 1918, somente em Berlim cerca de 500.000 trabalhadores. Na liderança da greve estavam entre outras lideranças do SPD, Friedrich Ebert, Philipp Scheidemann e Otto Braun (J), assim como do USPD, Hugo Haase (J), Dittmann e Ledebour. Segundo o parágrafo §89 RStGB, greve era pura traição. No início de 1918, a agitação no exército e na marinha foi intensificada. Motins e deserção em massa, assim como ruína da disciplina, foram as conseqüências imediatas. Os principais oradores do USPD foram Karl Liebknecht (J) e Rosa Luxemburg (J).
O golpe mortal não veio do exterior, ele veio do interior
A 5 de outubro de 1918, o governo do Reich solicitou a Wilson, conduzir as negociações de paz segundo os 14 pontos. [153]
Extrato da publicação Komm heim ins Reich!, pág. 51-54, (pdf, ca. 12MB).