Através de seu fundamento marxista e da estreita ligação de todos seus integrantes com o comunismo – isso fica explícito na pessoa do mais importante espião de Stálin, Richard Sorge – a Escola de Frankfurt estava obrigada com uma concepção histórica comunista. Suas experiências com o Nacional-Socialismo reforçaram esta posição e, após 1945, eles vestiram por completo a camisa do programa de reeducação dos alemães e participaram como parte do movimento antifascista da demonização da história alemã. Sua luta contra todas as tradições alemãs para destruição da identidade e desenraização dos alemães tiveram efeito na mesma direção.
Portanto isso não é mera coincidência, mas sim pura consequência que seus pupilos do Movimento de 68 fizeram da alegada e até então insuficiente superação do passado um de seus principais pontos programáticos. O “Tacape do Fascismo” e o “Porrete de Auschwitz” encontraram portas abertas para adentrar na “cultura política”. As acusações contra a geração dos pais que participaram da guerra deveriam acirrar o conflito de gerações, assim como ampliar as diferenças entre eles. Com isso os pais são culpados, colocados sob acusação e cria-se um clima de insegurança para implodir a família – e como descrito mais adiante – ela deveria ser eliminada como suposto bastião do autoritarismo.
Já no início da década de (19)60 aconteciam literais caçadas de personalidades pelos esquerdistas, as quais tinham se voltado contra essa forma unilateral de superação do passado. Por exemplo, podemos citar o caso do psicólogo Peter R. Hofstätter. Este renomado professor da Universidade de Hamburg, em um extenso artigo no jornal semanal Die Zeit de 14 de junho de 1963, sob o título “Passado superado?”, demonstrou dúvidas sobre a natureza das ações e a forma como se lidava com o passado nacional-socialista. No artigo ele abordou os intermináveis processos sobre as ações conduzidas durante a guerra, criticou o currículo exagerado sobre esse tema adotado nas escolas desde 1959, avaliou a morte dos judeus como ações de guerra e assim deveria ser tratado, resumindo assim: “Não existe na face da Terra um povo que tenha superado seu passado… Me parece não ser tão inteligente, que nós nos ocupemos com uma tarefa em princípio insolucionável”.
Como consequência a mídia caiu sobre ele, e iniciou-se uma campanha de difamação contra o cientista e seu “perigoso ensinamento para a coletividade”. Ele foi denunciado criminalmente e abriu-se um processo disciplinar contra um professor internacionalmente conceituado. Apesar do arquivamento da denúncia e de o professor ter escapado por pouco de uma condenação, e até mesmo de uma demissão, o Senado da Universidade de Hamburg viu-se obrigado a desaprovar publicamente a forma como Hofstätter “tratou questões sensíveis de nossa vida pública política” (FAZ, 20/10/1983).
Este caso serviu como exemplo e assim teve seu efeito: foi “um sinal assimilado pelo professorado da Alemanha Ocidental. Desde então, até hoje, nenhum professor tratou de forma crítica e publicamente a Superação do Passado”. (Mohler 1987, pág. 40)
À esquerda: o cientista político Udo Walendy (1965). Por causa de suas publicações
na série Historische Tatsachen (Fatos históricos), ele foi condenado a 14 meses de prisão.
À direita: Hellmut Diwald: “A História dos Alemães não foi verificada e interpretada factualmente,
mas sim desqualificada moralmente.”
Dois anos depois, o cientista político Udo Walendy foi demitido de seu posto como docente de uma escola profissionalizante, por ele ter publicado um pouco antes (1963) a obra Verdade para a Alemanha, com muitos documentos sobre a questão da culpa pela Segunda Guerra Mundial e ter chegado ali a conclusões diferentes da dominante opinião reeducada. A autoridade competente de Deltmond escreveu ao docente expulso a 10/05/1965: “É claro que … deve ser visto por parte da diretoria da escola, … apenas contratar docentes que estejam completamente no mesmo plano de nosso atual Estado e principalmente que reproduzam sem muito desvio das visões e concepções defendidas pelos governos federal e estadual… (É sabido), que você escreveu um livro onde toma uma posição sobre nossa recente história alemã, mas de uma forma que não corresponde ao atual conhecimento histórico em todos seus detalhes e principalmente em suas consequências, e que em todo caso, não pode ser admitido.” (Freies Forum nr. 5, 1966, pág. 7 et seq)
Os acadêmicos da ciência histórica “devem estar alinhados – sem muito desvio – às visões e concepções defendidas pelo governo” – INACREDITÁVEL ! – NR.
Nos anos seguintes, outros docentes foram demitidos por terem se pronunciado na forma de artigos, livros ou declarações sobre a história contemporânea, contra a opinião reinante sobre a Superação do Passado do Terceiro Reich, e porque teriam aliviado os atos e até mesmo porque exaltavam o regime Nacional-Socialista. Vale destacar que nenhum caso é conhecido onde um docente ou professor tenha sido punido por ter comprovadamente exagerado a culpa alemã ou falsificado a história em detrimento dos alemães.
Início do grande processo de Auschwitz a 20/12/1963, no tribunal de Frankfurt,
um ano depois do assassinato de Adolf Eichmann em israel.
21 membros da SS foram acusados. As sentenças foram anunciadas somente em 19/08/1965.
Com o Movimento de 68, a superação do passado – mas deformadora da história, atua de forma mais forte na Alemanha, e adota a visão histórica dos Antifas comunistas originários de Moscou, e suas versões distorcidas são divulgadas cada vez mais ao público pelas grandes mídias. Ao se ajoelhar na Polônia, o gesto do chanceler Brandt foi uma das consequências, outra a renúncia e traição política em relação às províncias alemãs do leste. Um rígido controle foi anunciado e qualquer desvio punido severamente assim que se manifestassem. Segue o exemplo do caso do historiador Hellmut Diwald, em 1978.
O professor de história em Erlanger, que já havia escrito uma série de livros históricos muito bem avaliados, publica neste ano na respeitada editora Propyläen sua obra mais extensa, Geschichte der Deutschen. Este professor para História Contemporânea da Universidade de Erlangen, que era avaliado até então como “peso para a esquerda” e “neutro”, e autor preferido em grandes jornais assim como acadêmico nos programas de TV, tratou de forma diferente nessa obra a história do século XX, bem distante da concepção de seus demais colegas. Ele expos e corrigiu algumas das mentiras históricas bastantes populares da reeducação e exageros das cifras em relação aos campos de concentração da Segunda Guerra Mundial, e escreveu sobre a Solução Final: “O que aconteceu de fato naqueles anos, apesar de total literatura atual, ainda não está claro.” (Diwald 1978, pág. 165) Com isso ele lança dúvidas na opinião formada até então pelas investigações e pesquisas, principalmente através do extenso Processo de Auschwitz dos anos (19)60, que teria esclarecido tudo sobre este assunto.
Com isso, após amistosas conversas e retrospectivas de sua obra – na forma característica anti-cronológica – iniciou-se uma campanha de difamação contra o historiador alavancada principalmente pela revista Der Spiegel. Ele foi pressionado pela sua editora a modificar o parágrafo atacado. Embora ele tenha explicado em dezembro de 1978, em uma entrevista na TV da Bavária, que não aceitaria nenhuma mudança do conteúdo de sua obra e finalmente tenha cortado o vínculo com sua editora, esta deixou em seu estoque a primeira edição e permitiu que terceiros modificassem as passagens incômodas em uma nova edição. Diwald deve agradecer à sua reputação acadêmica, que ele tenha saído desse episódio apenas com uma repreensão por parte da direção da universidade e que estes tenham se contentado com um certo afastamento. Digno de nota neste episódio contra o professor de Erlanger, foi o fato de alguns protagonistas que o atacaram terem pertencido ao quadro de oficiais da SS e também atuaram no Reichssicherheitshauptamt.
Para outros semelhantes casos, indicamos as obras de Mohler, Armin – Der Nasenring, 1996 e Kosiek, Rolf – Historikerstreit und Geschichtsrevision, Tübingen,1987.
Extrato do livro de Kosiek, Rolf – Die Machtübernahme der 68er, 2009, pág. 92 a 96.